Culpa do acaso

E ela estava ali, exatamente ali. Sentada em um banco em frente ao mar, ouvindo o incessante barulho das ondas que não se cansam de chegar. Nas mãos, um livro que tinha acabado de ler. Tinha chegado ao capítulo final e não acreditava que tinha acabado assim, sem respostas, como se outra história fosse começar... As boas histórias são mesmo assim: deixam mais perguntas do que respostas. E agora? Quem seria a mulher que escrevia cartas tão intensas, tão apaixonadas, tão doloridas e que mexeram tanto com a vida de um homem que era tão indiferente a tudo, principalmente ao amor? Segurava o livro e pensava em sua vida e no momento em que o acaso surgiria em sua vida e a mudaria totalmente, como a personagem do livro. Ah, como sou tola, pensava ela consigo mesma. Sempre aguardando algo, sentindo a presença da ausência dentro de si. Seus olhos curiosos captando a essência das coisas e transformando em poesia. Sim, era uma sonhadora, incurável. Distraído era seu jeito de ser, sempre pensando em muitas coisas ao mesmo tempo e às vezes perdendo momentos únicos e irrecuperáveis. Tudo na vida não tem volta. Ela escrevia. Escrevia porque buscava respostas. Sim, escrevia poemas. Sobre a vida, o céu, o sonho, o azul, o amor, principalmente sobre o amor... Sobrava sonho no que escrevia. Viver para ela é secreto. Escrevia porque assim seus sentimentos eternizados ficariam, porque assim transbordava um pouco dos sentimentos que lhe abarrotavam a alma. Olhava mansamente, pra além do mar, além do céu em comunhão com litros de tinta azul que foi derramado naquele infinito. Os últimos raios de sol a iluminar o coração e o banco. Inspiração para um poema !! Procurou rapidamente em sua bolsa caneta e algo para escrever . Encontrou meia folha de papel, meio amassada, mas serve. Então escreveu: “Em meio a paisagem /o amor pede passagem / somos eterna travessia.” Sorriu. E surgiu então como que do nada uma ventania e o poema perdido se foi voando, loucamente voando... Ela mais que rapidamente pega sua bolsa e vai para o lado contrário do poema voador. Ah, se ela soubesse que se tivesse ido atrás do poema o acaso desta vez a surpreenderia ... Mas não . Alguém não muito longe dali sorria lendo uns versos e se perguntando : Quem será que os escreveu ?

Elisângela Bankersen
Enviado por Elisângela Bankersen em 07/02/2015
Reeditado em 07/02/2015
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