DESEXCLUSIVOS ETERNAMENTE

Sempre fui cética quanto ao amor. E com esta idade que estou, a minha maior preocupação é ver se a água do banho está morna porque minhas pernas e costas doem demais. Você sabe né, filho, a idade chega e vamos sentindo uma quebradeira em tudo. A minha memória não é lá essas coisas, mas devo dizer que tive uma paixonite quando tinhas uns doze ou treze anos, depois disso, tudo passageiro até que cheguei nesse estágio atual, com oitenta anos acompanhada de Brigite, minha gata tão velha quanto eu, e Oscar, o meu vira-lata mais amado e sabido. O fato é que fui até a cozinha fazer um chá e ouvi do rádio uma canção que me fez lembrar uns acontecidos da mocidade. É, filho, velho é túmulo! Guarda tudinho, passe o tempo que passar! Imagine aí, se eu derretesse a falar tudo que já ouvi e vivi? O tempo seria pouco, meu filho. Mas, o que quero dizer é que enquanto tomava meu chá e ouvia aquela música, lembrei-me de um ocorrido em minha cidade, um caso de amor desses de novela ou de filme, escute, só:

Ele começou:

_Olá.

_Oi

_Tudo bem?

_Tudo.

_Tem alguma pretensão em estar aqui?

_Nenhuma! Entrei porque estava sem sono, afinal, nem frequento isso. Para mim é tudo enfadonho ou fastioso.

_Hum..Sei.

_E você?

_Estou também sem motivo e objetivo como diria Engenheiros do Havaí, rs.

_Então, tá. Vou sair.

_Não, não vá. Vamos conversar sobre mais alguma coisa.

_Conversar sobre o quê? Vamos falar sobre a Crise Mundial na Economia, a Primavera Árabe, a Crise Energética e Hídrica? As grandes questões filosóficas da humanidade acerca do Ser, ou ficaremos em um discurso mais leve sobre Deus e o princípio de todas as coisas?

_Rsrsrs.... Menina, você não me parece uma pessoa comum. Estou gostando de falar com você.

_Ok. Então decide sobre qual assunto elencado você deseja falar.

_Fala o que quiser. Seu discorrer está me agradando.

_Assim, fico sem saber. Mas é isso. Estou com a alma exausta e dolorida.

Os dois, que não desconfiavam de que o destino estava aprontando uma bela história para eles, continuaram a conversar por aquela noite. A conversa foi até quatro horas da manhã. Nada pecaminoso, insinuante ou do tipo. Eles não gostavam desse tipo de conversa. Por fim, para que não se perdessem, trocaram e-mail e já estavam flechados, o cupido já tinha feito o trabalho, mas como eu disse, eles ainda não desconfiavam.

Filho, eu sei que sua dúvida por eu saber de tantos detalhes deve estar latejando a cabecinha de você, mas eu sou uma velha boa de imaginação ou seria memória? Continuemos!

Os dias se seguiram e, acredite, eles passaram quase um ano apenas em conversa mas juravam amor eterno, planejavam até filhos. Os diálogos que travavam eram dignos de cartas ´´romeu e julieta´`, e em algumas vezes, era tanta figura de linguagem para dizer coisa simples, que se qualquer pessoa fosse ler aquilo, sinceramente, receitaria um ansiolítico, SEM DÚVIDA! Mas isso ocorria porque estavam inebriados de poesia, sim, a mais pura e arrebatadora poesia: Paixão.

Filho, ouça o que eu ouvi:

_Mas por que você quer se encontrar comigo?

_ Porque eu preciso de você!

_Mas porquê?

_ As coisas que você me fala dizem sobre alguém que sou eu. Eu vou para você com muita facilidade, com muito amor, com todo o meu eu. Sou totalmente de graça, MENINA!

_Você é louco? Você tem ideia que você mora aí, tão longe de mim? Tem certeza que atravessaria Curitiba por minha causa? Meu pai, você só pode ser louco mesmo.

_Sim, tenho certeza do que digo. Se digo, meu amor, é porque farei. A única coisa que me impede é se você não quiser. Então, diga-me: Não me quer? Não pensa em mim? Não quer sentir meu calor? Diga-me! Preciso de uma posição, porque após tanto tempo, já não consigo me imaginar sem você, sem o seu toque.

_Meu pai! Como pode dizer isso? Como pode? Tem certeza do que me diz? Eu preciso pensar.

O tempo passou e, finalmente, a mocinha resolveu se encontrar com o amor de sua vida. O definitivo. Levaram 10 meses para se amar e, amaram-se. Contudo, dois meses depois, nunca mais se falaram. Porquê? Ah, filho, isso é outra história e meu chá já esfriou.

Eliane Vale
Enviado por Eliane Vale em 22/02/2015
Reeditado em 22/02/2015
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