O MENINO DO MUNDO MAGRO

Quietinho em um canto, o menino fazia o que os outros de si mesmo pediam: andava a esticar a casa. Seu pai, que era professor de filosofia, já havia comentado com a esposa. Dizia que os gregos chamavam o fenômeno de explosão. Tinham até um nome para isso: “aion”, ou tempo que não se mede. Um eternizar-se que só as crianças sabem acessar sem desacessar-se do tempo comum. Um ir e vir para o nunca da Terra, para a Terra que nunca acaba e que não se cansa de refazer-se em si mesma. “Sim, em outras palavras,” – continuava o pai – “o garoto está brincando. Está só reinventando-se em algum outro universo. Ele esta paralelando alguns mundos.”

Desmontando os montes que se estabelecem na vida, o cantinho engordava cada vez mais. Só a mãe não entendia aquela gordura toda. Preocupada, um dia perguntou:

- Filho, você está bem?

Voltando-se para ela, como que desconectando de um lugar para interagir com o dela, ele responde:

- Tudo. Por quê?

- O que há de tão gostoso nessas latinhas velhas e nessa conversa fantasmagórica? Ando preocupada com esse seu falatório. Seu pai havia me dito que isso é normal, que uns antigos já pensavam nisso blá, blá, blá, blá, blá, blá. Mas não me convenceu. Sai daí. Quero que pare já com isso.

- Não posso!

- Ora, não pode! Saia já daí. Parece maluco. Só doidos falam sozinhos!

- Eles me seguem, mãe!

- Quem te segue?

- Os cantos da casa. As janelas todas se agigantam.

- Bobagem! Quero ver isso então. Não minta pra mim.

O menino voltou a olhar para baixo, retornou, e no mesmo instante a Senhora foi esmagada pela casa. A criança não mais a ouvia, não mais a viu. O universo a calou. Sua casa apequenou-se com ela dentro.

- Olhe pra mim menino! Estou falando contigo!

E um puxão de orelhas logo fez desacontecer o que havia levado tanto tempo para criar. Sentiu que não era permitido mais estar lá e aqui ao mesmo tempo. Assim, frustrado, nunca mais voltou a se encontrar do outro lado. O menino cresceu ali mesmo e, desde então, todos os lugares pareciam magros. A vida seguiu e o homem teve que viver para sempre com essas miudezas do lado de fora. Isso acontece!

Dilso Santos
Enviado por Dilso Santos em 22/02/2015
Reeditado em 22/02/2015
Código do texto: T5145887
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