Contando As Estrelas

O menino ruivo contava as estrelas brilhantes do céu de julho, enquanto acariciava sua gata preta na janela do quarto que cheirava saudade; da poeira a coroa, do tapete ao livro de cabeceira, do sonho da TV em cores ao rádio de pilha sem uso. Sonhava em ser astronauta, cruzar os limites que sua vida humilde lhe impunha fortemente. Quando dizia aos pais o que queria ser, Esses o reprimiam: “deixa de besteira, rapaz, vai ajudar seu pai lá no bar do Seu Pedro”. O menino sorria com os lábios enquanto chorava sangue. A cada frase dita por eles, pensava que só os lobos fossem capazes de prosperar e que ele era apenas cópias diversificadas de gênios que foram esquecidos.

Cresceu em uma terra sem dono, toda em branco e com um pouco de vermelho escorrendo ao fundo. Observou os meninos do centro alcançando “vitórias sociais” que, para ele, não significava muito, mas para os outros: tudo. Tornou-se manobrista e um exímio viciado em drogas que vendia até a alma em troca de algo que o transportasse dali. Não era fácil colorir mundos acinzentados.

Corria da policia todo dia, já que era o único esporte disponível. Enquanto se exercitava pensava no pódio. A recompensa? Luciana. –Ah Luciana! Amor devastador.

Luciana,

a professora da cidade interiorana.

O ensinava o som da vida,

enquanto,

aprendia com ele o sabor agridoce da luta contra tudo e todos.

Depois

de cometer alguns assaltos

e cheirar um pouco de poder,

corria em direção à casa da amada

atirava pedrinhas em sua janela de arquitetura antiga.

Ela era muito conectada e não entendia os motivos que levavam Miguel a atirar coisas irritantes ao invés de mandar uma mensagem de texto.

-Será que não tem outra forma de você avisar que está por aqui?

-Eu gosto de vir sem avisar.

-Mas isto não está certo!

-Mas eu faço mesmo assim.

Dizia ele. Cruzando os braços e franzindo a testa que já apresentava marcas de expressão.

Após pequenos desacordos, beijavam-se. A professora, bondosa, permitia que ele a despisse, assim, faziam o verdadeiro amor a noite toda. Com o tempo, fora tomando gosto pelas aventuras criminosas do amado, ele a transportava para outro mundo.

-Você é meu astronauta!

Sussurrava ela.

-Eu sei... Eu sei.

Desde então, todas as noites contavam as estrelas do céu enquanto acariciavam seus corpos encharcados de hormônios.

Lucas Guilherme Pintto
Enviado por Lucas Guilherme Pintto em 01/03/2015
Código do texto: T5153946
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