TERMINE O CONTO

Retratos de família, vistos pela primeira vez no espaço vazio do coração de Helena, faz com que desperte nela a compulsão por jóias para suprir necessidades espirituais. Campos de concentração e anéis de diamante têm muitos pontos em comum, mas a dor do outro é sempre valiosa para nós. A preocupação com as horas, herdada da revolução industrial é a bussola pós-moderna para encarar o mundo. Helena aciona o despertador todos os dias para que não se atrase para o emprego. A vida de proletariado é fascinantemente perturbadora, mas a moça até gosta de contar moedas para comprar bijuterias no final do mês enquanto almeja diamantes ilegais oriundos da África.

O barulho dos saltos avisa que ela está vindo. Escondo-me de medo e vergonha. Com o coração na boca, coloco-me no armário para observá-la em silêncio enquanto conto suas intimidades para leitores em universos paralelos e invento circunstâncias para o sumo do entretenimento.

Brigamos com o tempo. Ela querendo se dividir em duas para pagar as contas do salão de beleza e ainda juntar alguma para a tão sonhada cirurgia plástica para afinar o nariz. Eu tentando terminar sua trajetória e pensando em finais terríveis para ela. Coisa típica dos meus personagens. Mas Helena tem livre arbítrio, manda e desmanda na estória, me usa como um mensageiro qualquer. Inconscientemente ela sabe que está sendo observada, então, se arruma para dormir; passa perfume, penteia o cabelo loiro, deita fazendo pose e dorme olhando para o teto com as pernas dobradas evitando contato direto com o lençol de flores, comprado em uma loja de departamento por R$ 35,00.

Agora tenho total liberdade sobre ela, posso matá-la dormindo, colocar pesadelos em seus sonhos tranquilos, incomodá-la com pernilongos tocadores de violino ou deixá-la dormir em paz. Mas, talvez, por ingenuidade mesmo, por pura fé, confia em mim e dorme mansa. Me seduz pela simplicidade, eis que sou incapaz de fazer algum mal a ela, porém, isso me faz pensar um pouco: Será que há um autor maluco controlando minha vida e tendo impulsos de compaixão por mim? Decidindo o quanto posso ser feliz? Decidindo até um suposto suicídio mal sucedido? Pensando nisso sou quase incapaz de terminar este conto. Pelo menos agora.

Lucas Guilherme Pintto
Enviado por Lucas Guilherme Pintto em 01/03/2015
Código do texto: T5153950
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