O NASCIMENTO DO MAL PARTE II

VIOLANDO O CORPO DE UMA POETA MORTA

O NASCIMENTO DO MAL

PARTE II

Já havia perdido trinta pratas em quinze minutos apostando doses de uísque na mesa de sinuca . Eram dez e meia e o dono do bar queria que eu saísse . Estava sentado no balcão tentando explicar minha situação ao homem que me servia por obrigação . Afinal de contas , se tratava de um bom cliente , pagava minhas contas e as vezes arrastava novos '' clientes turistas '' que gastavam certa grana .

- Não estou entendendo nada do que esta falando , Oliver . Tenho que fechar e você trabalhar amanha .

Disse o dono do bar recolhendo a garrafa para prateleira .

- Então me de o que sobrou da garrafa e eu sumo da sua frente .

Falei , fazendo a voz escorregar dos meus lábios numa atuação digna de Oscar . O DB me entregou a garrafa e desejou boa noite .

Meu carro estava parado a duas quadras , não havia encontrado lugar para estacionar mais cedo quando cheguei atormentado por causa da piada de mal gosto que ouvira pelo telefone de manha . Caminhei pela calçada , desviando de pés que surgiam debaixo de caixas de papelão e tapando o nariz por causa do cheiro do urina dos que moram ao relento e se cagam nas vielas . Três quadras depois senti que havia algo errado , percebi que estava andando no sentido contrario , idiotamente quase que sem motivos me viro e quando me viro topo com essa morena de olhos tristes e sorriso discreto .

- Oliver , certo ?

Lhe estiquei a garrafa e pedi que bebesse um pouco . Ela negou .

- Bom , é você quem sabe . As vezes ver as coisas por de trás de um primas etílico ajuda a gente se encontrar .

- Mas eu não quero me perder .

Disse ela , medindo minhas vestes .

- O bom de se perder é que quando você se encontra , da muito mais valor a porra da vida .

- E você , já se perdeu ?

- Estou tentando , vou me perder bem perdido , assim quem sabe não encontro mais coisas no caminho .

A morena tomou a garrafa da minha mão e deu um trago . Torceu o nariz . Não estava acostumado com aquilo .

- Você esta bêbado e falando merdas .

Falou ela , depois de sobrar o nada para diminuir a queimação na boca .

Peguei a garrafa de volta e continuei , agora na direção certa .

- Oliver , preciso de sua ajuda …

Disse ela , se antecipando seu corpo de metro e sessenta na minha frente .

- E eu da sua , não lembro onde deixei o carro .

Suas mãos meladas de creme hidratante encontraram as minhas e começou a me puxar .

- Vamos , eu te ajudo . Mas que carro você tem ?

- Um velho Ford

Disse a ela . Depois que perguntou falei o modelo .

Era um bairro afastado , sujo e imundo aquele . AS luzes dos postes , nem todas funcionavam , os bueiros cheios de lixo , as paredes pichadas , os pontos de ônibus abrigos para vagabundos . Um buraco cavado dentro de outro pra onde toda a merda e lixo do resto da cidade escorria , e quando se olhava para cima , os pombos empoleirados nos parapeitos dos prédios desocupados eram o mais próximos de anjos que qualquer miserável ali chegaria perto .

Encontramos meu carro , a morena se ofereceu para dirigir .

- E para onde vamos ?

Perguntei . Disse que para minha casa .

- Lá é uma droga , moça . O fogão esta sem gás e na TV tudo que reluz é ouro de tolo . Estaremos mais seguros num ambiente cheio de gente , escolhemos uma mesa aos fundos , com pouca luz onde não podemos ser vistos , mas claro , o garçom vai precisar saber onde estamos para trazer as cervejas e a conta , claro . E por falar na conta , dessa vez pode deixar comigo .

A morena bateu a porta do carro , deu a partida mas o motor só fazia grunhir .

- Não se preocupe , é só segurar a chave no contato , logo logo ele funciona .

Disse que me imaginava de outra forma . Como ?

- Pensei que era um letrado de terno e bons modos . Mas é um vagabundo montado num pangaré vestindo trajes de segunda mão que se acha um cowboy .

Ela desviou de um cachorro e pegou a saída que dava para a rodovia , deslizamos até passar pelo cruzamento e virar a esquerda , entramos na cidade , ou melhor , saímos do ralo . A mulher permanecia muda , perguntei para onde estávamos indo e respondeu minha casa .

- Bom , fique bem claro que não tenho grana , não posso pagar a noite , então pense bem no que esta propondo antes de fazer merda .

Foi ai que ela tirou os olhos da estrada e uma de suas mãos açoitou meu rosto . O carro perdeu o controle por segundos , varamos o farol vermelho para estacionarmos logo ao lado de uma padaria fechada .

- Por deus , Oliver . Você é um imbecil !

- E você entrou no meu carro , docinho .

- Porque precisamos de sua ajuda …

Então lembrei . Já tinha ouvido esse papo antes , mais cedo , no telefone . A voz , não reconheci sua voz .

- Por Cristo , sai já do meu carro , sua louca !

Falei , saltando do assento do passageiro para dar a volta até a porta do motorista . Abri e puxei a morena para fora . Ela não resistiu , só disse que passaria na minha casa pela manha , quando estivesse melhor .

Seu rosto logo sumiu no espelho retrovisor , mas seu perfume ainda poluía a porra do carro todo …

As vezes fazemos coisas estupidas como não escovar os dentes e criar caries . As vezes olhamos para trás quando a frente só a incertezas . Dei a volta no quarteirão e Tainá caminhava de cabeça baixa pela calçada , sozinha debaixo das luzes vacilantes dos postes . Quando notou minha aproximação não pode deixar de se mostrar contente e surpresa . Parei o carro do seu lado e abri a porta , ela deslizou seu corpo pequeno para dentro e agradeceu .

- Você só precisa me ouvir – Disse ela , ainda estávamos parados – só preciso lhe contar como tudo aconteceu .

- E o que espera que eu faça depois de ouvir ?

- Publique tudo no jornal onde trabalha . Ninguém mais o quer fazer , acham que é tudo loucura , mas você sabe que não é . AS coisas que aconteceram com você … nos não matamos Edvania , foi aquela coisa que vivia dentro dela que acabou com nossa amiga …

Não precisei guiá-la pelo caminho , havia ido a minha casa pela manha e ainda de lembrava dele . Parou o carro de gente ai meu portão , entramos , abr a janela para ventilar o lugar com cheiro de tapete molhado .

- É aqui que a magia acontece

Falei para ela , indo até a geladeira buscar um cerveja .

Minha cabeça começava a doer , sobre a mesinha de centro algumas copias da D.S.T . Tainá apanhou uma e apontou meu nome para um dos contos ali publicados.

- Esse não foi você quem escreveu , eu o reconheço .

Disse ela , se referindo a um conto de Edvania Benedett cujo a autoria eu havia plagiado . Me sentei no sofá e ficamos em silencio po algum tempo , Tainá folheando as paginas da revista .

- Então , você conhecia essa Edvania a bastante tempo?

Perguntei , iniciando uma conversa .

- Ha algum tempo .

- Era que tipo de pessoa ? Mexia com magia negra , cortava cabeças de frango …

Tainá jogou a revista de volta na mesinha , suas paginas estalaram .

- Não , não era nada disso que você possa estar pensando .

Mostrei a cicatriz das garras maléficas que ela havia deixado em minhas costas .

- Bom , continuo dizendo que não era ela .

- Bom , mas ela devia ter algumas manias sados , no mínimo .

- Era uma garota bem normal na maior parte do tempo . Tinha suas manias , não gostava de comida branca e tirava a cebola do arroz , as vezes apagava no mio de uma conversa , falava sozinha …

Pedi que fosse direto ao assunto , ela perguntou se eu teria um gravador .

- Pra que ?

- Porque precisa publicar tudo conforme vou lhe contar . Tenho um amigo , Jônatas , esta preso , pensam que foi ele quem a matou , mas não foi , ninguém acredita na gente …

A ideia de trazer essa garota até minha casa já estava me fazendo sentir mal , uma ideia idiota , como eu havia dito antes . Avisei que não tinha gravador nenhum , e que ela teria de ser rápida .

- Espero que a historia seja curta , porque daqui apouco fico bêbado e não vou me lembrar de nada que sair da sua boca...

16/03/2015

15H13M

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 16/03/2015
Código do texto: T5172067
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