A menina dos olhos de luar

A MENINA DOS OLHOS DE LUAR

Sol longe dos olhos, atrás dos cinzentos telhados. Quase nenhuma luz visita os olhos das pessoas que se apressam a encontrar urgentes interruptores.

Resta no ar a esperança do amanhã, quando novamente a luz irá marcar presença. Bem acima dos telhados, vai se fazendo presente um suave sorriso que reflete o que já foi dia. Um ponto de luz alerta incautos e apaixonados.

Em suas casas, as pessoas recolhidas, se concentram longe das janelas que são mantidas fechadas, como que se quisessem aprisionar a luz fria que os distrai.

Nas ruas, seres da noite que pouca importância dão ao sol, comemoram. Amantes discretos, outros nem tanto, trocam emoções diversas. Sentidos reprimidos, emoções incontidas.

Gatos estranhamente livres vagueiam pelos telhados como se a noite em nada os afetasse. Ainda assim, os ratos não ousam fazer festa.

Festas vão pipocando pela noite dentro de uma ou outra janela, onde se podem ver rostos sintéticos de traços grosseiramente estudados.

Os que já tem por companhia o travesseiro, relaxam emoções, como que se preparando para uma nova disputa matinal.

Tudo parece estranhamente único. Parece que espelhos domésticos refletem apenas o vazio que acompanha a falta de luz.

Todas as janelas são monotonamente iguais. Todos os rostos procuram expressar as mesmas emoções. A noite é um imenso shopping center, templo de consumo onde narciso vai se produzir.

Uma janela ousa ser diferente. Sua luz ultrapassa os limites impostos pelas cortinas e desafia graciosamente a escuridão. Sua suavidade é convidativa, seu calor é ritmado, quase musical. Quantos olhares passam apressados e não conseguem vê-la. Ou melhor, não estão preparados para senti-la.

Emoldurada por uma janela, a luz vem de um quarto de paredes em tom róseo, filtrada por uma cortina com textura de véu.

Somente olhos mais atentos percebem que aquela luz é diferente. Enquanto a lua vai seguindo o seu caminho e aos poucos altera o seu brilho, aquela luz permanece constante, como que numa emoção contínua.

Aquela fonte de luz parece caminhar com passos seguros. Seus gestos são como um exercício de perfeição. Olhos que eventualmente a acompanham são brindados com um sonho em tons pastel. Qualquer cor mais forte, que eventualmente faça parte do campo visual, apenas destaca aquele conjunto harmonioso.

Olhos mais atentos se preocupam em descobrir o sentido daquela luminosidade. Mesmo não compreendendo o sentido daquela brilhar, esses olhos atentos sentem-se felizes por aquela luz existir.

Naquele ambiente que parecia constantemente visitado pelo luar estava Kim, uma menina que diante do espelho explicava toda aquela luz.

Enquanto a lua lá fora alterna idas e vindas, como que querendo brincar com o sol, ela tem nos seus olhos um brilho próprio.

Seus gestos são luminosos, seu andar reflete o sonhar, e os seus olhos são o próprio luar.

Flexor Astronomics
Enviado por Flexor Astronomics em 05/04/2015
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