Nada, agridoce nada

E ela está em seu quarto, com seus livros, suas músicas tristes e seu cansaço.

Porta trancada, janela fechada. Ela parecia ensaiar para a morte. Seu corpo – há vários dias precisando ser lavado – esparramava-se inerte sobre a cama, tão branco que quase poderia se confundir ou fundir com o lençol – se este não estivesse há muito tempo precisando ser trocado.

Mas ela está lá. A única coisa que ilumina ainda que debilmente o lugar é a chama na ponta do décimo terceiro cigarro consecutivo entre seus lábios, seus dedos e seus lábios de novo.

Evitava pensar muito sobre qualquer coisa enquanto a chuva caía, a janela bambeava, alguém batia na porta e o mundo "quase parecia" um lugar caótico. Apenas soltava na fumaça suas palavras não-ditas; desanuviava a cabeça anuviando o quarto.

A mulher – que não era Capitu, mas também tinha olhos de ressaca – sabia que havia algo errado, e sabia que já fazia algum tempo. Talvez ela procrastinara tanto, mas tanto, que o que quer que fosse aquilo tinha passado batido e...

"Talvez seja... Não, não pode... Será?!", pensava.

“Eu apenas...”, tentou ela, sussurrando. “Pensava que talvez... Eu só...”

Decidiu deixar pra lá. Minutos depois, num clique, ficou cristalino de tão claro:

“Eu só tinha tanta certeza de que seria melhor do que isso!”

11/03/2014

Thainá Mocelin
Enviado por Thainá Mocelin em 07/04/2015
Reeditado em 07/04/2015
Código do texto: T5197651
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.