Linivaldo Sangue bom

Linivaldo, nascido no interior, foi criado pertinho da barranca do paranazão. Pegou muito no pesado, junto com seu velho pai. Um dia, o Vardo como era carinhosamente chamado pela família e amigos, se cansou daquilo tudo, já estava maior de idade, e resolveu mudar de vida, vou-me embora pro Rio de Janeiro disse. Comprou umas destas revistas de cifras com músicas de vários artistas, passou a mão no violão amigo e começou a praticar. Passados alguns dias, já conseguia tirar uma ou outra melodia. Entusiasmado, chegou para a família e disse: Oi pai, oi mãe: eu num queru mais morá na roça, o ceis mi perdoi mai eu vo mimbora pá cidade grandi, um dia o ceis inda vai tê orgúio di mim. Os pais ficaram tristes, más abençoaram o filho e deixaram que partisse em busca de seu sonho. O Vardo então juntou as roupas surradas, pegou o velho violão e a farofa que a mãe preparou com muito carinho, e o pai o levou até o ponto, pra pegar a velha Jardineira azul, que o levaria até o povoado, e de lá pra São Paulo. Ao adentrar a capital, sentiu um aperto no peito, tudo era muito diferente, muito grande, muito forte, muito tudo. Vardo, jamais teve medo de desafios, e pensou... já estou na metade do caminho, agora vou enfrente. E o ônibus passa ruas, avenidas, pontes, viadutos por entre a selva de concreto, até chegar à velha estação: Terminal Tietê. Desembarcou em são Paulo, conseguindo passagem somente para a manhã do dia seguinte. Sendo obrigado a passar a noite por ali, aproveitou para observar o diálogo entre as pessoas, pois tinha a preocupação, de que no Rio, não iriam entender seu caipirez e pensou: ao menos eu chego ao Rio falando igual ao Paulistano. Más, ao perceber que o paulistano diz: agueinta, pimeinta, cinqueinta, não to inteindeindo, o loco meu, é nóis, sarve o Curintia, ta tiranu mano, e por ai vai. Optou por seu caipirez mesmo.

Chegando ao Rio de Janeiro, se sentiu meio que um peixe fora d’água, e não sabia qual direção tomar. Caminhou um pouco na intenção de encontrar, um lugar onde pudesse tomar um banho, e descansar. De repente avistou uma placa: temos vagas para serventes, uma empreiteira contratando trabalhadores para uma obra no PROJAC, Mais que depressa se apresentou para o cargo, e foi aceito. No outro dia começou a trabalhar, o tempo passou e Vardo aprendeu rápido o ofício, poucos meses depois já estava encarregado de um setor, onde liderava um grupo do pessoal. Um dia, já todo marrento como dizem os cariocas, resolveu escrever uma carta pra família, endereçada ao irmão.

E ae brou, belê? Como tá, aix paradaix por ae, e uix corôax? dix pra elix, q’eu to no mó perreio de saudade sacô, todaix aix noitex eu sonho co nosso coroa broderrr. Sabe brou, á vida aqui é muito irada, sacô? maix eu dixcolei um trampo manero, to trampano na Globo broderrr: oix cariocaix são maneríssimuix, tudo sangue bom sacô? Dia dessix tava dando um rolê, e cruzei c’o Gabriel pensadorrr, caráca brou o cara é o mó broderrr, sangue bom, mó gente boa trocamuix umaix ideiaix manera. A maiorrr parrrte duix arrrtixtaix são manero, tem uinx pregos, é verrrdade maix eixtix a gente passa geral. Olhi brou eu trampo de segunda a seixta, e no sábado eu faço uinx bixcatex pra dixcolarrr uinx éxtraix sacomé né comprei umaix bécax iradaix agora tenho que ralarrr pra pagarrr, maix não me arrempendi não.

Ae brou: vô terrrminarrr, perrrdoe se falei dimaix, fiquei sabendo que tu vaix serrr pai, quando o muleque naiscerrrr, me dê um alô té maix abraçuix fui.

Idal Coutinho.

IDAL COUTINHO
Enviado por IDAL COUTINHO em 12/05/2015
Código do texto: T5239701
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