Leididai do Brasil
 
Leididai Maria Mendonça, assim batizada em homenagem à histórica Lady Di, nasceu em família pobre na localidade de Buraqueiras. Filha única de um casal de operários da Fábrica de Laticínios, apesar da vida apertada, foi criada como verdadeira leide. E que graça de menina, numa estampa loura, de olhos azuis e boca de morango, coisa bela de se ver.

Leide, assim chamada para facilitar, tinha paixão por cavalos. Ainda pequena, em  dias de folga o pai a levava ao parque da reserva mantido pela Fábrica de Laticínios, nos arredores da cidade. Ali, ela dava voltinhas nos cavalos mais mansinhos e quando o zelador perguntava “O que Leide vai ser quando crescer?”, ela respondia na sua linguagem carente de erres “Lainha de Lodeio”.

Buraqueiras era conhecida pela tradição de suas Festas de Peão. Muito antes de junho, quando a festa acontecia, todo mundo já sabia de cor e salteado, os nomes dos astros contratados para animar as pelejas nas arenas. Portanto, Leide cresceu nos fervores do Rodeio Buraqueirense! E aos dezessete, com o Ensino Médio quase concluído, ela já dizia com todas as letras quando lhe perguntavam sobre  o que ainda queria ser: “Rainha de Rodeio!”.

Abertas as inscrições para o Concurso da Festa de Peão, Leididai não perdeu tempo. O patrocínio para montar os trajes ficou por conta da Fábrica de Laticínios, e não é pra exagerar, mas a moça ficou mais bonita que a outra Lady. Quer apostar se ela ganhou o título? Ganhou, e foi tão aplaudida que os gritos enlouquecidos da multidão atravessaram oceanos, ecoando no palácio de Kensington, e teriam  matado de inveja a Lady Londrina, se esta, viva ainda fosse. 

Adivinha se aquele sucesso todo passou despercebido ao grande Carlos Cesário Pereira — o famoso Charles Montana, do mundo das arenas? Não mesmo! O peão, vindo de longe pra faturar o prêmio dos oito segundos no lombo do Black Horse, cavalo brabo e arisco, não era moço de deixar passar em branco uma Lady daquelas! Ao fim da festa,  foi cumprimentar a Rainha. Fez uma reverência tão exagerada, tirando o chapéu, balançando as franjas da calça de couro, tilintando as rosetas da bota, que ninguém teve dúvidas: daria em paixão.

De fato, Leididai e Charles Montana saíram dali juntinhos, direto para os Rodeios da região, do Estado, do Brasil, tendo para  planos futuros os ares do México, Estados Unidos e Canadá. Foi ao lado dele que Leide conheceu Barretos, Americana, Piracicaba e outras tantas cidades famosas pelos eventos de Rodeio. Em todas a Rainha brilhou, exibindo sua faixa granjeada em Buraqueiras.

Tudo poderia ter parado por aí, mas Charles Montana queria mais que uma Rainha. Ele queria uma, duas, três... Nove. Foi nesse ponto que ele e Leide se desentenderam. Na última festa da temporada, Leide fechou também sua temporada com Montana e partiu pra outra: ingressou na Polícia Militar — antigo e secreto desejo de seu pai — e hoje brilha como Sargento Mendonça numa companhia de um dos Batalhões do Estado.