O Falso Profeta

“Um dia o mundo vai mudar”, disse-me um idoso, quase perto de bater as botas! “Ora... o que esse senhor quer com a mudança do mundo, se não vai presenciar nada disso ainda vivo? ”. De fato, ele morreu e nada mudou. E se mudasse? Seria um sábio falecido. Se não mudasse? Calma, eu não esperei o suficiente, ainda vai mudar. Assim é fácil morrer e deixar profecias. Falso profeta! Eu era muito novo, no auge de uma juventude, beirando a fase adulta, mas juntamente com o tempo, que se passava como uma nuvem em dispersão, eu carregava comigo as frases do falso sábio profeta, apenas isso. Do rosto dele, seus jeitos e trejeitos, nem me lembrava mais. Passaram-se muitos outonos e muitas folhas e flores caíram diante dos meus pés e o vento, tão educado, soprava essas folhas e flores, deixando um limpo caminho para mim, caminho repleto de histórias e momentos, era o tempo, que na melodia do “tic tac”, um dia despertou, era a minha vez de deixar o mundo dos vivos. Sobrevoando as nuvens dançantes, deparo-me com o falso profeta e, vejam só, lembrei-me com maestria de seu rosto, jeitos e trejeitos. Logo pus em xeque sua sabedoria: “Fui e nada mudou! ”. Ele sem muito hesitar respondeu: “O mundo deles não mudou. Já o seu mundo mudou completamente. ”. Vi que não era um falso profeta, era, de fato, um sábio. Meu mundo mudou completamente, como havia falado. Agora eu sabia que jamais escutaria novamente o som do “tic tac” e do despertador, eu sabia que a nuvem não dispersaria juntamente com o tempo, e o vento, ainda muito educado, não sopraria folhas e flores para registrar minhas marcas na história. Tudo mudou. Tudo.

Fron Monseus
Enviado por Fron Monseus em 05/06/2015
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