O VELHO E A BONECA

Uma boneca antiga e um fabricante de brinquedos. Ele era apaixonado por ela. Sonhava em vê-la viva, queria ser retribuído no amor. Dia desses uma fada passou por ali. Sentiu pena do velho e enquanto ele cantava, ouviu a voz do manequim o acompanhar. Ah, aquele lugar esquecido logo se iluminou. Mas ela tinha uma queixa. Não era mais lembrada. Ninguém a procurou. Estava triste por viver. O sentimento do senhor parecia não suprir tamanho sofrimento. O cenho fechou-se. Ambos afastaram-se. Foi um para seu cantinho da oficina.

“Sou apenas uma boneca. Já fui amada por alguém que me deixou.” “Eu estou aqui, bela! Ame a mim, sonhe, mas olhe pra mim.” “Meus olhos parados só viam o tempo passando. Minhas pernas eram a menina que movia. Ela me abandonou.” “Fique comigo. O tempo me fez te amar. Morri. Voltei. Estou aqui, boneca.” “Quero voltar.” “Voltar a ser imóvel?” “Sim, ser humana me aflige. Assim que me transformei, o mundo me cobrou tudo o que me deixou.” “E eu, querida?” “Tu sempre estarás comigo, cuide de mim.” “Mas vou morrer, não posso!” “Daí estaremos juntos, dois mortos.”

E a fada, assim que eles se aproximaram para um beijo transformou os dois em estátuas, dois amores fotografados pela eternidade. E assim o amor pôde ser visto. Ninguém mais sofreu, além da fadinha. Ela definhou assistindo para sempre aqueles amantes que nunca encontrariam lábio nenhum. Quando aquele corpinho caiu sobre a terra, uma rosa bem vermelha brotou no lugar. Rosa que carregava pétalas que pareciam lábios estendidos a tentar beijar o céu.

Dilso Santos
Enviado por Dilso Santos em 06/06/2015
Reeditado em 07/06/2015
Código do texto: T5268573
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