Diário de uma garota com câncer

Meu nome é Leslie, tenho dezessete anos e uma família maravilhosa, que a propósito está sofrendo muito por minha causa.

Há três meses fui ao banheiro e vi sangue em minha urina, isso me deixou preocupada, mas com vergonha não contei nada a ninguém; comecei a sentir muita dor abdominal e fadiga a ponto de querer estar sempre imóvel, até que acordei com uma febre intermitente, já não tive como esconder, chamei minha mãe e meu pai e eles me levaram ao médico. Fiz exame de sangue, urina e de imagem que se bem me lembro foi uma tomografia computadorizada.

O médico chamou meus pais para conversar, e alguns minutos depois, minha mãe estava vindo em minha direção, seus olhos estavam vermelhos e vi o papai sentado em um banco um pouco mais afastado. Minha mãe me levou até onde meu pai estava e ai veio a noticia: você está com câncer, na segunda fase; nesta fase o câncer é maior, mas ainda está confinado ao seu rim. Horrorizada, chorei tanto que até encheria e transbordaria um rio. Meus pais me falaram que tudo ia dar certo e que eu ficaria bem. O médico veio nos dizer que a cirurgia é o único tratamento definitivo para o câncer de rim.

Tudo era muito novo e assustador para mim, me via como num filme, onde o doente luta com a família e simplesmente sobrevive ou morre. Fui contra a cirurgia, então meus pais me levaram para a casa para eu me acalmar e aceitar que era minha única chance.

Quanto descuido, esqueci de contar o nome de meus pais, mas é que estou tão confusa. Eles se chamam Roberta e Cosme e eles preferiram não conversar comigo no dia em que voltamos do hospital, queriam que eu fosse deitar e dormir um pouco. E foi o que fiz; achei que não iria pregar os olhos, mas logo apaguei.

Na manhã seguinte ,quando meus pais e eu teríamos uma conversa,tia Carmem e tio Lauro chegaram, eles não sabiam de nada ainda, então mamãe pediu para que eu fosse ao armazém com a desculpa de buscar pó de café; sabia que não queriam que eu visse a fraqueza deles ao contar para os nossos parentes.

Chegando ao armazém peguei o pó de café e parei na frente do açougue, perguntei ao açougueiro se tinha rim, ele disse que sim, então disse que ele deveria cuidar de seu rim, porque o meu estava praticamente morto; ele me fitou sem saber o que dizer e eu vermelha de vergonha fiquei sem jeito e logo sai dali.Paguei o café e voltei para casa.

Quando cheguei a minha residência, os quatro estavam chorando, meus pais e meus tios, então eles me convenceram a marcar a data da cirurgia. Como o câncer já estava na segunda fase, à data foi marcada para daqui a quinze dias, dando tempo somente para fazer os exames pré-operatórios.

O grande dia chegou, minha família e eu fomos ao hospital; chegando lá, meus pais foram assinar uns papéis e eu passei em frente ao quarto quinhentos e doze e havia um rapaz bonito lá e ele estava muito contente. Viu-me parada na porta de seu quarto e falou: “— enfim sobrevivi!” Eu sorri e disse que estava prestes a me operar. Nisso chegaram os pais do rapaz, e quando eu ia me retirar, ele gritou me chamando e entregou-me um papel com seu número de telefone; disse que sabia que eu mandaria mensagem e desejou-me boa sorte.

Já na sala de cirurgia me foi aplicado anestesia e após algumas horas, meus pais entraram no quarto falando que a cirurgia tinha sido um sucesso. Ansiosa e meio zonza, pedi meu telefone a minha mãe e mandei uma mensagem ao garoto do quinhentos e doze: ”—enfim, sobrevivi”. Ele respondeu: ”— Eu tinha certeza disso, prazer Max.” Eu disse:”— Prazer,Leslie”.

Alguns dias de recuperação e ganhei alta, minha mãe brincava comigo, falava que arrumei um câncer como desculpa para arrumar um namorado.

Já curada, Max me ligou para o nosso quarto encontro na mesma semana. Eu fui toda contente. Enfim, minha vida tinha voltado ao normal, meus pais se aproximaram ainda mais com a barra toda que enfrentamos; mês que vem eles vão comemorar as bodas de prata. E eu estou feliz namorando com o Max.

Um ano e meio se passou e eu peguei meu diário, nele havia uma pequena uma carta que escrevi para mim mesma,dizia nela:

“Querida Leslie,

Seu rim foi traiçoeiro, lhe deu um belo susto; mas obrigada por ter lutado um combate único a cada dia, um combate turbulento e exagerado de inquietações. Estou orgulhosa de você”!

Eu chorei lendo esta carta, pois no fundo nem por um momento perdi as esperanças.

E o Max?Ele está bem, casamos e passamos a lua de mel em um lugar lindo, em um hotel e por coincidência no quarto quinhentos e doze.

No fim do meu diário havia uma outra frase:

“Leslie,nunca perca a esperança de nada na vida,sobreviva quando preciso,e no restante dos dias sorria e viva!”

Jhenifer Dorneles
Enviado por Jhenifer Dorneles em 20/06/2015
Reeditado em 20/06/2015
Código do texto: T5283775
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