Cidade dos Medos

Mais uma vez eu havia acordado naquele meu mundo preto e branco, um mundo frio e sombrio, a Cidade dos Medos, moradia dos piores sentimentos e pesadelos. O céu era sempre cinza, o clima estava sempre nublado e chuvoso, e sempre aconteciam grandes tempestades com direito a tornados, raios e trovões.

Eu morava nas ruas, desprotegida e ao alcance de todos os perigos, e também não sabia onde era a saída. Toda vez que parecia que eu estava correndo para um outro mundo, na verdade meus pés estavam fincados no chão e me traziam novamente para perto quando achavam que meus pensamentos estavam indo para longe demais.

Vivi por muito tempo nessa cidade, por semanas, meses ou anos... não sei ao certo o número de dias. Aliás, às vezes tinha a impressão de que o tempo nunca passava nessa cidade, e às vezes de que ele passava rápido demais. Tentava gritar, pedir socorro, mas isso só deixava o governante Medo cada vez mais furioso.

Um dia vagando pelas ruas, com as lágrimas descendo pelo rosto se confundindo com os pingos de chuva, encontrei três latas de lixo reciclável: Uma para serem jogadas fora as Esperanças, outra para jogarem os Sonhos e uma outra onde deveria ser jogada a Fé. Comecei a vasculhar uma por uma, procurando por um resquício de luz, e acabei encontrando lápis de cor, tintas e pincéis, e gizes, os quais me devolveram uma coisa que eu nem me lembrava mais que existia, o Sorriso. Peguei todo esse material e, ao invés de tentar fugir para outro lugar, comecei a pintar detalhe por detalhe do meu mundo. A cada cor que surgia, uma angústia morria, uma amargura era apagada, e uma medo chegava ao fim, até a cidade ser totalmente desabitas por esses “seres”. Quebrei os lixos em que estavam jogadas a Fé, os Sonhos e as Esperanças e espalhei-os por todas as ruas. As plantas, antes mortas, renasceram felizes. O que antes era opaco, ganhou brilho. Onde era frio e nublado, o calor do Amor tomou conta. E do escuro sombrio surgiu uma pequena luz que se espalhou pelo céu e iluminou cada canto do meu lugar. De preto e branco, meu muno passou a ser colorido, e a Cidade dos Medos passou a ser a Cidade do Possível. Meu antigo “eu” se morreu e renasceu das cinzas um novo “eu” melhor, mais forte e mais bonito.

Agora eu sei que toda vez que meu mundo se encontrar em tons de cinza, eu sempre terei um lápis para pintá-lo como eu quiser. Só dependerá de mim.

Srta Cabernet
Enviado por Srta Cabernet em 22/07/2015
Código do texto: T5319736
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