O anjo da moça morena
 
Eu seguia pela rua que margeia o Cemitério Municipal do lado direito. Ela vinha em sentido contrário, na calçada à minha esquerda, junto ao muro alto. Sábado, noite quente de verão. Morena coxuda, de shorts. Violãozinho. Muito tarde para andar sozinha.
 
No passeio oposto, à minha direita, quatro ou cinco rapazes. Percebi que mexiam com a moça, prontos para atravessar a via. Nem sei o que poderia acontecer naquele momento deserto.
 
Acelerei e, metros adiante, ao atingir a velocidade ideal, executei um cavalo-de-pau, colocando o fusca no rumo do centro da cidade. Ao emparelhar com a jovem, parei bruscamente e abri a porta do passageiro. Ela entrou depressa, a tempo de deixar o grupo sem reação, do outro lado.
 
Arranquei e perguntei aonde está indo? Respondeu à gafieira do Operário. Toquei para lá. Estacionei defronte a portaria, ela perguntou não vai entrar?
 
Aproveite a noite, princesa, e tome cuidado. Volte acompanhada ou de taxi. Ela falou obrigada meu anjo, beijou-me a face direita e desceu sã e salva.
 
Após deixar a morena, retomei o caminho da casa da Eulália. Ela esperava por mim. Presa no cabelo, recém-liberta do jardim, uma púrpura dália.


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N. do A. – Na ilustração, Bailarina Espanhola de Pino Daeni (Itália, 1939 - EUA, 2010).
João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 27/07/2015
Reeditado em 24/01/2021
Código do texto: T5325424
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