O Pesadelo: O Velho da Cadeira de Balanço

A sequência dos dias é apenas o acréscimo das incertezas. A única cadeira de balanço de uma sala desbotada que cheirava a coisa velha, chiava impertinente e antiquada.

Filhos, mas que filhos? de janelas trancadas noite e dia. Desprendia-se o odor úmido. Um sentimento frio, algo esperança. Mais morte que vida, mais noite que dia, mais chuva que sol.

Não se imaginava que houvesse ali vida anterior. Era uma existência morta. Era um fim de corredor sem porta.

As paredes que não tinham mais cor, deixavam na palma da mão um pó branco e fofo. Tão frio quanto o clima que ali se respirava. Tudo era mofo.

Não sei o que pensava o velhinho da cadeira de balanço, rítmico e manco, de uma tosse seca e pausada. Parecia quase tranquilo de uma paz que não é possível naquela frieza.

Eu fitava aquele olhar opaco. E o que me irritava era não saber o que ele pensava. Aquela figura pálida, parecia rir-se de mim e da minha juventude, dos meus olhos brilhantes e inquietos.

Eu pensava: quero morrer jovem e bela. Mas o que ele pretendia com o olhar alheio a tudo e com aquele riso irônico e calmo que me assustava. Parecia conhecer o meu destino. Saber o meu futuro, se é que eu teria um!

Na parede um prego curvo para cima, enferrujado, sustinha um retrato amarelecido pelo tempo. Era um retrato de uma mulher que parecia jovem. A moldura estava negra de poeira. Via-se que nunca havia sido limpa. E eu me perguntava: Que vida teria levado este homem, o que se passaria nos pensamentos dele e como se sentia por dentro de si mesmo.

Tinha vezes que eu estremecia de medo daquele ambiente meio aquático, meio sombrio para o qual fui condenada em liberdade.

Olhava o velhinho e me perguntava o que estaria fazendo ali, se não era filha, não era mulher, não era amiga. O silêncio me roia. Minha imaginação começava a ficar cansada, as minhas palavras chegavam aos meus lábios nervosas, minha garganta quase secara.

O velho tinha voz, mas não dizia uma palavra. Parecia gostar do meu desespero. parecia se alimentar do meu desgosto. Mas ele era tão calmo. Eu pensava ser apenas um pesadelo do qual poderia acordar e ser feliz.

Eu não entendia como ainda menina fui parar ali. E antes é tudo tão nublado. Nada vinha a minha mente que recordasse a infância. As noites traziam vultos que povoavam a casa, que corriam a se esconder. Mas que também não falavam. Vultos que apareciam e desapareciam em plena casa como se fossem fantasmas. A minha única esperança era o raio filtrado de sol, que escoava pela fresta da janela da sala, diagnosticando o dia.

Teresa Cristina Monteiro
Enviado por Teresa Cristina Monteiro em 27/07/2015
Reeditado em 28/07/2015
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