Anjos da Chuva
As palhas dos coqueiros salpicam gotas de água e as deixam cair solenemente sobre um pinheiro plantado às suas raízes. Parece um vaso de puro cristal diluindo-se e seus fragmentos, refletindo cores e imagens, pairam sobre o belíssimo arbusto.
O cenário é familiar, aconchegante, a paz é um instrumento soberano e os figurantes aproveitam bem a preciosíssima ocasião.
Avô e avó rejuvenescem com os sorrisos das netinhas Letícia e Gabriela, duas sereiazinhas cheias de encanto se debatendo nas águas da piscina artificial.
Há certos momentos na vida – mágicos! - deveriam ser congelados para sempre, duradouros como a esperança, eternos como os sonhos perseverantes.
A cena é real, com requintes de contos de fada, mas a avó delira ao fitar o marido empunhar a mangueira de aguar a grama e fazer cachoeira sobre as duas garotinhas que se contorcem de tanto rir e fazer baldeação na água.
O céu mantém-se límpido, o azul impecável, aves riscam os ares em voos espetaculares, tão longe que se avista seu corpo franzino em forma de “V”.
A brisa marinha sopra novamente e os pingos de água cascateiam fortemente sobre as crianças, respingam nos pés de cocos, assemelham-se a uma chuva de lantejoulas prateadas caindo sobre a cabeça dos dois querubins.
À distância, ouve-se o quebrar das ondas e o vozerio dos banhistas. O dia ensolarado é um convite irrecusável para o entretenimento.
No muro baixo da casa onde se banham os dois anjinhos, um burrico mete o focinho e relincha, acompanhado do pregão do vendedor de picolés montado em seu dorso: “ Vai um docinho para essas duas doçuras?”
As duas meninas sequer prestam atenção ao apelo do doceiro e, em novas investidas, mergulham e saltitam, saltitam e mergulham maravilhadas, os olhinhos atentos aos pingos atirados sobre suas cabeças.
Até parece papel picado e reluzente vindo do infinito jogado pelas mãos do Papai do Céu.