Ana Patrícia morava em Lagoa Seca, interior do Estado. Sua paixão pelas letras vinha do tempo em que escreveu uns versinhos que fizeram muito sucesso na escola: O papai é o Rei do Lar/A mamãe é a Rainha/E nesse reino feliz/Eu sou uma princesinha/. De princesinha Ana Patrícia não tinha nada, mas depois daquele sucesso todo nunca mais parou de se aventurar pelo mundo das Letrinhas... Mais tarde, das Letronas.

Na adolescência e juventude escreveu muitas cartas de amor, seu gênero preferido. Mas por falta de sorte o que sempre lhe faltou foi o amor tão cantado. Nunca se deu bem com o tal. Mas não era pessoa de desistir. Cantava sempre, por antecipação,  os amores que ainda viveria, tinha certeza.

Um dia, descobriu um site bem legal: o Recanto dos Amores, onde escritores amadores — nos dois sentidos — podiam escrever seus versos apaixonados, e, quem sabe, encontrar também um grande amor. Ana Patrícia publicou lindos versos de amor e ficou encantada com as respostas e interações recebidas. Puxa, quanta gente bacana e competente vinha ler suas coisinhas! Coisinhas estas que nem ela mesma acreditava prestarem pra alguma coisa.

Um belo dia, eis que Ana Patrícia escreve um lindo poeminha versando sobre os males da solidão. E quem pinta para deixar um lindo comentário? Um poeta denominado Peixe Dourado. Curiosa com o pseudônimo, leu o perfil do moço e descobriu que Peixe Dourado estava à procura de um amor e... Pasmem! Ele era de Lagoa Seca. Que coincidência! Os dois pertinho um do outro! Não era ótimo? Na página de Peixe tinha número de WhatsApp e tudo! “É o destino conspirando a favor”, convenceu a moça a si mesma.

Claro que Aninha ligou para o whats de Peixe. Ele atendeu e bateram um doce papo. Peixe contou a ela que era garçom à noite, e poeta nas horas vagas. Achou muito bom que ela quisesse encontrá-lo. Deu o endereço do barzinho onde trabalhava, e garantiu que era só chegar e perguntar pelo Peixe. Era esse mesmo seu codinome.

Às oito em ponto Ana Patrícia, se acabando em ansiedade, adentrou ao barzinho e foi ao dono, procurando por Peixe. A princípio o homem achou que ela estava querendo um filé de tilápia com alface, tomate e limão, prato muito gostoso que serviam ali. Ela explicou que procurava outro Peixe, mais especificamente Peixe Dourado. Ele respondeu que infelizmente ali não serviam aquela espécie. Ana Patrícia ficou muito confusa, mas retomando a calma  explicou tudo ao dono do bar.

Ele olhou-a meio de lado, como quem olha alguém doidinho da silva e falou que ali nunca tinha trabalhado nenhum peixe, muito menos dourado e que  aquilo tudo era muito esquisito. Caiu a ficha! Peixe era fake! Também quem mandou? Onde já se viu Peixe Dourado em Lagoa Seca? Jamé, em tempo algum...