O Carro Vermelho

Ele encostou o carro na estrada e parou para refletir. Acendeu um cigarro e por um momento se perguntou "O que faço aqui?". Ele olhou a si mesmo no retrovisor do carro, tirou o cigarro da boca e jogou fora. Saiu e ficou olhando para os tantos outros carros que passavam pela estrada, mais uma vez ele refletiu sobre o que estava fazendo ali, nada. Ele sentou no capô e ficou parado olhando para o nada, seus pensamentos estavam distantes do carro vermelho ou da estrada. Tirou do bolso a carteira, olhou os documentos, identidade, CPF, cartões de créditos, nada valeu naqueles momentos. Ele havia desistido de seguir viagem, mas por que seguiu? Seria por causa da moça que seu coração partiu? Se lembrou então, dois dias atrás ele em casa estava chegando e quando abriu a porta do quarto sua mulher com outro na cama estava transando - Eu não sei o que dizer. - ela disse assustada - Não há o que ser dito. - ele respondeu aflito. Foi até o armário e pegou a sua mala, começou a colocar suas roupas enquanto o casal traidor estava ainda na cama, parados olhando. - O que você vai fazer? - ela perguntou e ele nada respondeu apenas olhou. Terminou de arrumar suas coisas. - Vou pegar o carro vermelho. - e dito isso saiu deixando os dois olhando para o espelho. Ele estava de volta ao momento da estrada que agora jazia parada. Ele respirou fundo e sussurrou - A culpa foi minha? - parou e pensou. Entrou no carro e ficou olhando o volante, olhou para o banco do lado que parecia distante. Olhou para trás e se lembrou de sua filha, será que ela sabia? Respirou fundo - Não. - não tinha como saber, ela amava tanto o pai que não iria esconder. E mesmo assim ele a deixou, em meio aquela casa, mais uma vez pensou. Ligou o carro e voltou. A viagem de volta era bem pior, ele sabia que teria de entrar pela mesma porta e seria olhado com a mesma cara torta. Que desculpa será que a mulher deu? Viagem do trabalho? Ela jamais pensaria que ele sofreu. Sua reação foi tão gélida e abusiva que nem o mais frio ar condicionado seria capaz de esfriar uma relação daquela forma. Ele chegou em casa dois dias depois e sua filha o recebeu, era uma boa menina, estudiosa, em seus 15 anos de idade, sonhava ser como o pai. - Eu já sei o que aconteceu. - disse olhando para ele. - O amor enfim morreu. - soou bem claro em seus ouvidos, a mãe deveria ter dito. - Eu vim te buscar, entre no carro vermelho maldito.

Mas a verdade é bem dolorosa, o carro muito antigo, era de seu pai, um velho amargurado com dores de um passado perdido. Namorou aquela mulher ali, pediu ela em casamento, vendo o pôr do Sol, ali. Foi ali também que perdera a virgindade e foi ali que bebeu pela primeira vez. Foi ali naquele carro vermelho que sua filha havia nascido, em meio a um trânsito caótico em um dia bonito. E nesse embalo de emoções que o carro vermelho trazia, foi ali que colocou a mala de Sofia e foi ali que partiu em busca de um novo dia.

Lian Abbagliato
Enviado por Lian Abbagliato em 06/08/2015
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