O menino do ônibus

Já eram seis da tarde e eu estava muito atrasada, corri de casa juntando rapidamente meu fichário, dois livros e minha bolsa, entrei no ônibus lotado a procura de um lugar para sentar, como não achei me contentei em ficar em pé segurando aquelas barras que ficam próximas ao teto do ônibus. Meu braço já cansava com meia hora de viagem, meus olhos já estavam pesando quando vi ele entrar... Alto, corpo forte, moreno com os olhos castanhos claros, o cabelo preto penteado em um perfeito topete, mochila presa ao seu ombro por somente uma alça, camiseta preta com alguns escritos em inglês, calça jeans e tênis, um garoto aparentemente normal, mas que despertou minha atenção no exato momento que entrou pelas portas do ônibus e que me fez desequilibrar batendo a cabeça na barra atrás de mim, isso chamou a atenção do garoto misterioso, ele me olhou enquanto eu esfregava a parte de trás da cabeça dolorida e sorriu para mim, ele tinha o sorriso mais lindo que já vi, era largo e completava com duas covinhas que não me deram outra opção se não sorrir de volta, um lugar ficou vago no final do ônibus e ele indicou com a cabeça para eu sentar ali, levantei uma sobrancelha e andei até lá, agradeci movimentando os lábios e recebi outro sorriso maravilhoso enquanto me sentava descansando meus braços doloridos.

O observei durante o resto da viagem, meu rosto esquentava e minhas bochechas coravam cada vez que ele olhava de volta, decidi ir falar com ele, dizer um oi ou só perguntar seu nome... Mas antes que eu me levantasse, o garoto acenou e desceu, suspirei me encostando no banco frustrada, dois pontos depois foi a minha vez de descer na faculdade. Eu cursava ciências contábeis, mas tinha alguns amigos do curso de engenharia que eu esperava perto da cafeteria, quando um deles chegou me contou que estava abrindo naquele dia uma nova turma de medicina e que o campus estava cheio de alunos novos perdidos o que era engraçado já que passamos por isso não fazia muito tempo, esperamos os outros chegarem e fomos conversando até próximo ao banheiro feminino onde precisei dar uma parada rápida.

Enquanto lavava minhas mãos escutei a voz de um amigo conversando com outra pessoa, peguei novamente meu material de cima da pia e saí do banheiro quando esta pessoa já se afastava virando o corredor para o segundo andar, mesmo andando depressa pude reparar em suas roupas e na mochila... Era o menino do ônibus! Agarrei meu amigo pelo braço perguntando quem era o garoto e o que ele queria.

− Calma, o nome dele é Bruno, aluno novo de medicina e está totalmente perdido, me contou que desceu dois pontos antes da faculdade e só conseguiu chegar aqui agora depois de muito pedir informação, acho que não ficou com muita boa impressão dos veteranos daqui...

Bruno... Um nome simples para um garoto simples e encantador, ninguém parecia ter percebido meu desejo súbito pelo calouro e aproveitei isso para procurar ele pelos corredores. Já havia decorado todos os corredores, onde ficava cada sala, banheiro... Mas quem eu queria achar não achei então fui para a minha primeira aula, me sentei mais ao fundo e fiz as anotações sobre o que o professor falava. Eu sempre tive um problema de concentração, desde a época do ensino médio era um sacrifício fazer os cálculos sem que eu me distraísse, ou ler algum texto de história sem recomeçar várias e várias vezes, isso não mudou muito na faculdade, porém naquele dia eu tinha algo para desviar minha atenção e fazer minha imaginação viajar, quando olhei para o meu caderno não pude evitar rir com tanto “Bruno” escrito na minha folha, balancei a cabeça, arranquei a folha e amacei jogando na minha mochila. Quando acabou a aula já tinha desistido de achar o menino do ônibus, fui até a cafeteria e vi alguns alunos comentando sobre novos professores, funcionários e alunos, por alguma razão aquilo me deixou ainda mais frustrada então peguei meu café e saí em direção à biblioteca quando meu celular tocou, eu estava com o café em uma das mãos e o fichário nos braços, com m pouco de dificuldade atendi a ligação que era de algum banco oferecendo promoções e cartões, desliguei antes de falar qualquer coisa e tentava guarda-lo na minha mochila quando alguém saiu da biblioteca trombando em mim e derrubando todo o meu café, fichário e algumas folhas soltas. Abaixei-me para pegar o fichário e salvar algumas folhas do café derrubado quando ouvi o pedido de desculpas gaguejado, me levantei pronta para esbravejar com quem quer que fosse, mas em vez disso acabei rindo surpresa quando vi aquele sorriso lindo se abrindo pra mim... Era o menino do ônibus!

Bianca Gonçalves
Enviado por Bianca Gonçalves em 26/08/2015
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