A história que não existe

Por Djanira Felipe de Oliveira

(Obra publicada na Antologia Nó em pingo d'água - Edição Especial 2015 da CBJE)

Essa história foi inspirada em outra que ninguém leu também não foi publicada porque jamais alguém a escreveu. Até mesmo os personagens idealizados para o enredo, antes do primeiro ensaio desistiram e se perderam. Para trás deixaram sem ler, no banco de uma praça, o imaginado roteiro.

Os transeuntes curiosos olhavam meio sorrateiros e seguiam seus caminhos deixando ali solitário o amarelado papel com as falas que realçavam em cores bem diferentes, a forma de um arco-íris, o portal da entrada do vento no mundo encantador onde mora os pensamentos.

O papel parado olhava em sua volta o movimento. Viu chegar à tarde e levar o sol para os seus aposentos, muito bem acompanhada pelas brisas avivadas pelo seu amigo, o vento.

O papel desejou ser transformado em sentimentos ganhar espaço no tempo, ser levado pelo vento e penetrar suavemente no universo dos pensamentos.

E na sua idealidade sentiu-se livre a voar. Imaginou-se um pássaro, mas não conseguiu cantar e nem se firmar no ar. Com sorte após adentrar o mundo dos pensamentos ficou preso numa árvore, um Ipê lindo florido, de onde pode alcançar pelo fascinado olhar outros Ipês coloridos.

Nas ruas diversos lápis desenhavam cata-ventos, enquanto os lápis de cera davam as cores mais belas, porque nesse mundo mágico havia um cata-vento firmado em cada janela. E quando o vento chegava os cata-ventos giravam. Harmônicos e nas janelas pareciam transformados em esplêndidas aquarelas.

O papel ficou assustado quando sentiu balançar os galhos do lindo ipê onde ficou ao chegar. E fez esse mundo mágico parecer bem singular ao lembrar que não é um pássaro e nem pertence a esse lugar.

Foi então que se deu conta que para o banco da praça ele deveria voltar. Ingressou no imaginário e deixou o vento levá-lo.

Pretende ficar na praça porque sente a inspiração de que o seu papel é ser pássaro e voar é a sua pretensão. Ser levado pelo vento sentir forte a emoção e lembrar daquele autor que na praça o deixou e se foi sem direção.

Talvez jamais o encontre. Afinal no fim das contas essa história não existe foi apenas um anseio vivido pelo papel no seu breve devaneio.

Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2015

Djanira Felipe
Enviado por Djanira Felipe em 28/08/2015
Reeditado em 11/10/2022
Código do texto: T5362324
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