I
OS CONTENDORES
As surpresas surgem, às vezes, do nada, ora são boas, ora ruins. Raramente vou a Sepetiba e, certo dia, fui até lá, a serviço. Depois de resolver o problema, fui andando despreocupado pela rua da praia e encontrei um velho amigo, o Pimenta, tipo baixinho, atarracado, simples, com aparência de nordestino; devia ter uns quarenta e poucos anos de idade. Batemos um papo de confraternização e fizemos um lanche num bar. Relembramos histórias do trabalho e a conversa se prolongou. Nós nos conhecemos no Fórum, ele era advogado. Disse-me que ia para Campo Grande, de ônibus, pois estava sem carro. Ofereci-lhe uma carona, minha rota era aquela mesma. Pegamos o carro e seguimos.
Era um dia de sol e o trânsito tranquilo. Quando estávamos mais ou menos na metade do trajeto, passamos num lugar onde dois indivíduos brigavam: um deles era enorme, forte feito um touro e batia impiedosamente no seu desafeto. Algumas pessoas estavam ao redor dos contendores, apreciando, sem interferirem na briga. Aquilo era uma verdadeira covardia. Pimenta pediu para eu parar. Eu lhe perguntei:
― O que você vai fazer? É perigoso, o fortão pode bater em você.
Respondeu-me:
― Não fique preocupado, você se esqueceu de que sou advogado? De uma boa conversa ninguém escapa.
Eu pensei com os meus botões: “o Pimenta está doido, o troglodita vai bater nele, com toda certeza, e eu serei obrigado a me meter na briga e apanhar, é claro; afinal, por melhor que seja seu argumento, o violento homem jamais aceitará suas ponderações.”
― Sou advogado e quero saber o motivo da briga e por que bate tanto no outro, com tamanha covardia.
O grandão foi logo dizendo:
― Não se meta, seu advogado de merda, se não vai apanhar também.
E o amigo insistiu, tentando dar fim àquela selvageria.
― O que foi que ele fez, perguntou.
― Não é da sua conta, mas ele é abusado, e você vai apanhar agora, para aprender a não se meter com os outros.
Fiquei apavorado ao ver que a coisa ia sobrar pra mim. Afinal, eu não podia deixar que apanhasse sozinho. De repente, ante a investida do valentão contra o meu amigo, qual não foi a minha surpresa quando ele reagiu, como mestre, dando-lhe um golpe, que derrubou logo o agressor. Levantando-se, como uma fera ferida, fez nova investida. A reação foi imediata: quando Pimenta recebeu o pontapé, segurou fortemente o pé do adversário, torcendo-o com tanta violência que, por pouco, não lhe quebrou a perna. Acabou a luta em um minuto.
O outro brigão, aproveitando a oportunidade, sumiu, enquanto o valentão ficou caído no chão. Os assistentes bateram palmas e caíram fora. Fiquei estupefato, boquiaberto. Nunca podia imaginar tal desfecho e, muito menos, que o meu amigo fosse faixa- preta de jiu-jitsu.
Entramos no carro e seguimos em frente. Eu lhe disse:
― Ainda bem que somos amigos e jamais irei brigar com você. Levei um susto danado e pensei que o grandão fosse triturá-lo.
Parabéns, Pimenta!
Era um dia de sol e o trânsito tranquilo. Quando estávamos mais ou menos na metade do trajeto, passamos num lugar onde dois indivíduos brigavam: um deles era enorme, forte feito um touro e batia impiedosamente no seu desafeto. Algumas pessoas estavam ao redor dos contendores, apreciando, sem interferirem na briga. Aquilo era uma verdadeira covardia. Pimenta pediu para eu parar. Eu lhe perguntei:
― O que você vai fazer? É perigoso, o fortão pode bater em você.
Respondeu-me:
― Não fique preocupado, você se esqueceu de que sou advogado? De uma boa conversa ninguém escapa.
Eu pensei com os meus botões: “o Pimenta está doido, o troglodita vai bater nele, com toda certeza, e eu serei obrigado a me meter na briga e apanhar, é claro; afinal, por melhor que seja seu argumento, o violento homem jamais aceitará suas ponderações.”
― Sou advogado e quero saber o motivo da briga e por que bate tanto no outro, com tamanha covardia.
O grandão foi logo dizendo:
― Não se meta, seu advogado de merda, se não vai apanhar também.
E o amigo insistiu, tentando dar fim àquela selvageria.
― O que foi que ele fez, perguntou.
― Não é da sua conta, mas ele é abusado, e você vai apanhar agora, para aprender a não se meter com os outros.
Fiquei apavorado ao ver que a coisa ia sobrar pra mim. Afinal, eu não podia deixar que apanhasse sozinho. De repente, ante a investida do valentão contra o meu amigo, qual não foi a minha surpresa quando ele reagiu, como mestre, dando-lhe um golpe, que derrubou logo o agressor. Levantando-se, como uma fera ferida, fez nova investida. A reação foi imediata: quando Pimenta recebeu o pontapé, segurou fortemente o pé do adversário, torcendo-o com tanta violência que, por pouco, não lhe quebrou a perna. Acabou a luta em um minuto.
O outro brigão, aproveitando a oportunidade, sumiu, enquanto o valentão ficou caído no chão. Os assistentes bateram palmas e caíram fora. Fiquei estupefato, boquiaberto. Nunca podia imaginar tal desfecho e, muito menos, que o meu amigo fosse faixa- preta de jiu-jitsu.
Entramos no carro e seguimos em frente. Eu lhe disse:
― Ainda bem que somos amigos e jamais irei brigar com você. Levei um susto danado e pensei que o grandão fosse triturá-lo.
Parabéns, Pimenta!