895-O BATISMO - Autobiográfico.

— Ara, Alberto, deixa de ser do contra. A Maria convidou nós dois para sermos padrinhos do filhinho só pensando no quanto gosta de você.

— Você pode ir, mas eu não vou. Num aguento olhar prá cara do Pedro.

Alberto e Jovina discutiam sobre o batizado do primeiro filho de Maria e Pedro, para o qual os dois foram convidados. Jovina, cunhada de Maria, recebera contente o convite; já o marido não gostara da idéia. Sua antipatia pelo cunhado Pedro parecia ter crescido depois de ser convidado.

A birra com o cunhado era gratuita. Pedro era bem apessoado, educado, tinha sido seminarista e, se bem que fosse do tipo caladão, conversava bem quando o assunto fosse de seu interesse. Maria logo se afeiçoara ao marceneiro que aparecera em sua vida. Era viúvo. Noivaram e se casaram em poucos meses, o que também foi inusitado. Mas o que os outros irmãos aceitaram com benevolência, ele, Alberto, não concordara. E passou a detestar Pedro, mesmo antes do casamento, ocorrido há pouco mais de um ano.

Contudo, a faceirice e o jeito bem humorado de Jovina acabaram por convencer o marido.

— Até já bordei uma mantinha para o nenê, disse, estendendo uma linda “toalha de batismo”, bordada com o capricho e perfeição, que eram seus dons.

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O nome do primeiro filho foi escolhido por Maria: Antônio Roque, em homenagem ao jovem Antônio Roque Martins, de dezesseis anos, vizinho da casa ao lado da morada de Maria. O mocinho era paraplégico, usava uma rústica cadeira de rodas e movia-se com facilidade pela casa. Inteligente, frequentara o Ginásio Paraisense até o último semestre da quarta série, quando foi atacado pela “febre paralítica” (ou meningite, conforme falara o Dr. Urias) e não pode sequer receber o diploma do ginásio. Mas em vez de se abater, passou a lecionar para garotos da vizinhança, preparando-os para que entreasse alfabetizado no curso primário.

A compaixão e o carinho de Dona Beatriz e suas filhas Maria, Carolina, Rosa e Nena para com o garoto inspirara Maria a dar o mesmo nome ao filho recém nascido. Pedro, homem de boa índole, achou bom e acatou com alegria a idea da mulher.

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Maria convidou também a irmã Carolina para madrinha e Beatriz, a filha de Rosa, para participar do batismo, carregando a “Toalha de Batismo” que era usada para enxugar a cabeça do nenê a água benta derramada pelo padre durante a cerimônia.

Em consequência do apadrinhamento, Alberto, parece, passou a “aceitar” o cunhado; Carolina, a tia Carlota, passou a ser tratada de Madrinha por todos os sobrinhos que vieram depois. E foram mais de trinta! Beatriz passou a ter um desvelo especial pelo priminho que se estenderia por toda a vida.

No dia 19 de novembro, que era também o dia de aniversário de Aristeu, outro dos onze irmãos e irmãs de Maria, com dez dias de vida, o bebê foi batizado na Igreja Matriz de São Sebastião, pelo pároco Monsenhor Felipe. Comparecerm á cerimônia as irmãs de Maria, alguns priminhos e famílias da vizinhança, principalmente os da família Martins, que se alegrava com a homenagem prestada ao seu filho.

ANTONIO ROQUE GOBBO

St. Louis, MO, EUA – 27 de junho de 2015.

Conto # 895 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS.

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 26/10/2015
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