Seguro de Vida Eterna
Um anúncio no jornal chamou muito a atenção de seu Jorge, que é um pai de família exemplar que ganhou muito dinheiro, casou e teve filhos. O anúncio era de uma seguradora que prometia algo que todo ser humano almeja: a vida eterna. Jorge, que amava sua família, gostou muito da ideia, e logo ligou para a seguradora, onde uma secretaria muito gentil não quis dar muitos detalhes sobre os planos, mas marcou uma hora com Jorge no edifício gigantesco onde a seguradora funcionava.
Jorge marcou e ficou muito animado com a ideia de vida eterna, contou alegremente para mulher e para os filhos.
Seu Jorge chegou bem antes da hora combinada, usou até seu melhor terno e estava muito ansioso para conhecer o plano. O edifício era mesmo gigantesco, tinha grandes colunas e janelas. Jorge subiu a grande escada que levava para dentro, e ao entrar viu grande bancos, apesar de nenhuma pessoa. Não deu tempo de reparar muito, pois uma mulher muito bem vestida o encaminhou para uma sala a direita. Jorge nem sequer reparou na beleza extraordinária da mulher, estava fascinado com ambiente fantástico que ele estava. Entrou na sala e sentou-se numa cadeira muito confortável de frente para a mulher.
- Seja Bem-vindo. Gostou daqui?
- É realmente fascinante.
- Então, vc está interessado em algum dos nossos planos?
- Sim, sim, eu vi o anúncio e gostei muito da ideia. Deve ser caro né?
- Claro que não, não chega a 10% do seu salário.
Jorge achou estar sonhando, como pode um plano tão surreal custar tão pouco? Então disse:
- Estou interessado então, quero contratar o seguro de vocês. Para mim e para minha família.
- Muito bem, só que antes você precisa assinar estes papéis - a mulher colocou uma pasta na frente de Jorge com alguns papéis - você precisa lê-los e se concordar em seguir as regras, assinará e assim já estará participando do nosso seguro.
Jorge então começou a ler. No começo achou tranquilo, as regras não eram tão absurdas assim, porém um pouco estranhas. Não imaginava que aquelas coisas estaria escrito em algo desse tipo. Ao virar a página viu algo que não o deixou muito feliz.
- Não posso beber bebidas alcoólicas? Nada? Nem um golinho? - perguntou.
Jorge não abusava muito na bebida, mas gostava de beber regularmente seu conhaque, principalmente nos dias de frio. Nunca tinha gerado problemas por causa disso, ao contrário, era muito responsável e não tolerava abusos.
- Não senhor! Nada. - a mulher respondeu ríspida.
Jorge continuou a leitura. Outra coisa o deixou pensativo.
- Nossa, minha mulher não poderá usar nada disso? Nem maquiagem, nem joias, nem cortar o cabelo, nem calça jeans? As tatuagens se estendem para mim também?
- Sim senhor! Não é permitido fazer tatuagem, nenhum dos segurados.
Jorge pensou que a mulher não gostaria nada disso, mas achou que ela poderia entender, afinal valia a pena.
- Carne suína... Mas e o bacon... Porquê?
- Não pode comer, senhor.
- Ok.
Continuou atentamente a leitura.
Leu algo sobre não poder trabalhar em um dia específico, mas, apesar não fazer lógica, isso não atrapalharia sua vida. Então continuou.
- Moça, não poderei nem doar, nem receber sangue? Mas meu irmão vez ou outra passa por momentos difíceis de saúde e ele frequentemente precisa de sangue. Não poderei mais doar?
- Sinto muito pelo seu irmão, mas você não poderá doar.
Jorge já estava ficando de saco cheio daquilo. Em outro trecho dizia que ele deveria comparecer a seguradora pelo menos uma vez na semana para ficar repetindo exaustivamente algo totalmente monótono e decorado...
Mas ao mesmo tempo pensava em suas crianças e o quanto que ele queria vê-los para sempre. Continuou a leitura.
- Oh não. Como assim não poderei escutar rock? Por que terei que vender minha TV? Mas e as crianças? Elas gostam tanto de assistir desenhos infantis - Jorge fez as perguntas com tom de lamento.
- Senhor, nós aqui não discutimos as regras, apenas cumprimos!
Jorge ficou tão nervoso que começou a pular algumas linhas do texto, mas algo chamou atenção.
- Negar a ciência? Como assim? Como negar teorias provadas cientificamente?
- São apenas teorias, senhor.
Jorge sentiu vontade de explicar aquela mulher que aquilo era um erro comum das pessoas. Que teoria era muito diferente de hipótese e que uma teoria na ciência são explicações bem fundamentadas para descrever eventos que ocorrem na natureza. Envolvem fatos, leis e hipóteses já testadas exaustivamente. Mas Jorge percebeu que seria perda de tempo explicar aquilo à moça. A vontade de viver para sempre seguindo aquelas regras esta se tornando muito difícil de aceitar. Mas ainda continuou a leitura.
- Aaah, não é possível! Por que não posso assistir filmes, séries, nem ler quadrinhos?
A mulher apenas acenou negativamente para ele e frisou novamente:
- Senhor, nós aqui não discutimos as regras, apenas cumprimos!
Aquilo era o limite para Jorge, não iria tolerar aquilo nunca, aquilo era um absurdo sem sentido. Como assim, ele iria deixar de viver a vida dele por causa de... Ele se lembrou, era por causa da vida eterna.
Jorge disse:
- Moça, antes de aceitar eu quero fazer uma pergunta.
Qual a garantia e prova de que realmente ganharei uma vida eterna?
A mulher olhou nos olhos de Jorge e disse:
- Bom, não temos nenhuma prova física e concreta, mas...
Naquele momento Jorge levantou-se, agradeceu a mulher e saiu.
Andou a passos largos e encontrou um banco, onde sentou-se e começou a refletir sobre o absurdo que havia visto.
Concluiu que era melhor aproveitar intensamente a oportunidade da vida, do que viver preso seguindo regras medievais.
Nota: Esse conto não tem objetivo de ofender nada, nem ninguém. É apenas o pensamento de Seu Jorge sobre algumas regras para obter um seguro de vida eterna.