A minha amada dorme.
Ela está aqui, nos meus braços. Como eu sempre acreditei que estaria. Todo grande amor, cedo ou tarde, é correspondido. Tudo que é nosso volta para nós.
Preciso fazer algo mas não me lembro o que é. Me deixo ficar aqui, enlevado com a beleza dela. Os seus cabelos são longos e lisos, macios, castanhos.

Pensar que eu sofri tanto longe dela. A vida para mim era uma tortura. Toda vez que eu abria os olhos, ao despertar, uma onda de dor me invadia. A razão me dizia que eu a tinha perdido, a minha bela, o meu amor, a minha bailarina.
Eu não tinha forças para me levantar, me lembrava do jeito dela sorrir, o modo como mexia nos cabelos quando estava distraída. Nos meus sonhos, sabe, ela dançava para mim em um palco iluminado. Só para mim.
E eu não conseguia mais parar de chorar. Bebia até desfalecer para esquecer-me dela, fugir dessa obsessão mas os meus olhos, os meus olhos tinham fome de vê-la, eu desejava com loucura pelo menos ouvir sua voz ao telefone.
E eu cedia, lógico que cedia. E ligava, dez, vinte, cem vezes. Até ela atender.
Eu sentia que ela estava sofrendo com essa situação. Eu não queria machucá-la, daria a minha vida por ela. Mas aquilo era mais forte, Deus sabe que era.
Quando eu me lembrava que já a tivera em meus braços, que um dia ela também tinha me amado, o sofrimento aumentava. A vida não tinha mais sentido para mim. Parei de treinar, me afastei dos meus amigos, abandonei o emprego para vir até aqui atrás dela. Teria ido até ao fim do mundo.
Deus sabe quantas horas eu passei plantado em frente a esse prédio, olhos fixos nesta janela, na ânsia que uma cortina se abrisse, que uma luz acendesse. Ela estava aqui, eu tinha certeza, e nada mais importava para mim.
Às vezes eu pensava em desistir, pensava, como ela podia ser tão fria? Eu não estava mais aguentando ficar sem ela. Minha vontade era me jogar do alto de um prédio, meter uma bala no peito, tomar veneno.
(Tomar veneno...) Mas essa esperança, essa esperança de que ela voltasse para mim ardia em meu coração como um fogo devorador e eu sabia, não, ela não é assim, ela é boa, sensível e sabe que eu a amo mais que tudo na vida.
Por isso eu ficava. Por isso eu voltava. Por ela eu aguentava os olhares desconfiados do porteiro, dos moradores. Por ela eu fiquei debaixo de sol e chuva. Porque eu sabia que ela ia voltar para mim e agora o meu amor está aqui, repousando sobre a cama. Eu já a banhei, perfumei e maquiei. Acendi incensos, ela adora incensos, essa coisa mística, sabe, ela adora.
Acabou o desespero, acabou a dor. Acabou tudo. Eu matei o meu amor.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 06/11/2015
Reeditado em 06/11/2015
Código do texto: T5439928
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