O Jardim

Quando entrei na minha nova casa, descobri que havia nela um Jardim.

Pensei: um Jardim como outro qualquer, como tantos outros.

Sentei-me na sacada e o olhei pensando no que fazer.

E isso durou alguns dias, então percebi que aquele Jardim não era um jardim comum.

Em um dia seus crisântemos imitavam um sol nascendo, se exibindo para mim.

Em outro os cravos com seus fortes perfumes afastavam as pequenas formigas como que para me mostrar que o Jardim não aceitava ser tocado.

Durante os dias de sol, as orquídeas abraçadas às armações de madeira, procuravam se banhar na luz que nos iluminava, transmitindo toda a alegria e a energia que as dominava.

Era nesses dias que as violetas buscavam o abrigo da sombra de suas irmãs, me transmitindo uma angústia sufocante.

Quando me deixava caminhar por entre suas flores, via as tulipas me olhando com desconfiança. Eu claro temia machucar estas sensíveis amigas.

Cheguei mesmo a me ferir algumas vezes nos espinhos das rosas, por causa de suas ansiedades e suas mudanças de humor repentinas.

Os lírios se agigantavam, me fazendo sentir pequeno diante daquele Jardim tão forte.

Em algumas noites eu me angustiava, por ver as margaridas tão amedrontadas diante da escuridão, da imensidão da noite. Mas quando chegava um novo dia, lá estavam elas, prontas para enfrentar o que pudesse acontecer.

Como se para me confortar, quando era eu quem me sentia angustiado, as gardênias me tranquilizavam exalando seu perfume pelo caminho.

Havia cantos de pássaros, e havia silêncio angustiante.

Havia dias em que eu acabava farto daquelas flores e havia dias em que ansiava por ver suas cores após um dia de trabalho.

O Jardim que para mim, antes, era apenas um Jardim comum, se tornou o meu local favorito.

Não podia viver dentro dele, mas não podia viver longe dele.

Eu era o seu dono, mas era ele quem me possuía.

. . .

Os anos se passaram, sou velho agora.

Às vezes me pego pensando que não viverei para sempre.

Eu fui feliz, cada minuto, cada dia.

Meu único medo ao enfrentar a morte, é pensar no meu Jardim.

Será que algum dia, alguém vai amá-lo como eu o amei?

O ciúme tenta me dizer que não, mas na verdade, lá no fundo eu sei que seria egoísmo privar o mundo daquele jardim.

A única coisa que peço, e que em meu túmulo não haja flores, pois minha alma não estará lá.

Minha alma estará vagando tranqüila entre as flores deste Jardim.