ALINE E THE WALKING DEAD NATALINOS
Jorge Luiz da Silva Alves



   Rabanadas e bolinhos de bacalhau disputavam espaço com celulares e pequenas lembranças no enorme compensado reforçado sobre tripés na área de serviço, enquanto papéis de presente, lascas de churrasco, chinelos, foguetes estorricados nas varetas, roupas na piscina e uma infinidade de detalhes pós-Natal espalhavam-se pelo chão da área externa. carros bloqueavam a saída gramada e, sobre o capô de um deles, algo parecido com um peixe-de-vala-humano esparramava-se, derrotado com as mãos na fronte, protegendo-se do forte sol do enganoso horário de verão. Zumbizantes, apareciam os primeiros sobrevivente da Natividade: Uma grandona remelenta, arrotando; a mignon professoranda esfregando os olhos, o milico burguesado de bermuda xadrez batendo na pança assoberbada por picanhas, um malucão black power de café na mão e conhaque na outra, num estranho desjejum... Aos poucos, os caminhantes grotescos disputavam espaço no teatro dos sonhos da noite anterior, que virara a montagem dum filme apocalíptico, tentando compreender o que ocorrera sobre a face da Terra, pois se Jesus veio ao mundo para nos salvar, onde estava a Estrela de Belém, na forma de diarista contratada, para iniciar a remoção dos restolhos da nada Santa Ceia...

   ...neste exato momento, Aline - sessenta anos, kardecista, víúva, tres filhas e dez netos na periferia, dezesseis anos sem praticar sexo ou consumismo barato - irrompe mansarda adentro, lamentando-se de não ter tido tempo para, sequer, provar do bacalhau-do guanabara, pois teria que garantir o extra dia 25 para pagar os oito últimos carnês da obra, em Saracuruna...

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Jorge Luiz da Silva Alves
Enviado por Jorge Luiz da Silva Alves em 14/01/2016
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