Marinês
Estatura demasiado abaixo da média. Longe de ser a mais linda do mundo e muito distante da mais feia. Assim, digamos, bonita. Corpinho bem-feito, carinha próxima de uma boneca. Sorriso fácil. Uma miniatura de mulher desabrochando para a vida. Pensamento verde de menina.
Um dia me surpreendeu. Sentou-se à minha frente, no escritório, olhou-me fixamente e com um breve risinho disse pensei em ser sua namorada, mas estou apaixonada pelo meu colega de balcão. Você é mais bonito, mas ele tem mais corpo.
Fitando seus olhinhos castanhos, pensei aliviado ainda bem que não sou seu pretendente. Teria que sair por aí em busca de um corpo para substituir o meu, tão alto e magrelo.
Até então, eu pensava que só nós, os homens, admirávamos um corpo agradável. De mulher, claro. Não sabia que as mulheres apreciavam o mesmo nos machos, evidentemente por razões diversas. E até hoje não sei, e não pretendo saber, o que é um corpo masculino bonito, fora aqueles excessos que estragam qualquer estrutura, seja masculina ou feminina, como a protuberância abdominal, por exemplo. Sobre a beleza da escultura e das proporções equilibradas das fêmeas já nasci sabendo, ninguém me ensinou.
Num outro dia a peguei chorando. Perguntei o que foi. Respondeu ele não me quer, disse sou muito nova, criança ainda; mas queria tanto entregar a ele minha virgindade, daria agora, se ele quisesse.
Ainda outras vezes enxuguei suas lágrimas. Não fiquei sabendo se ele aceitou a oferta e fez a vontade dela. Nunca perguntei e ela jamais me falou.
Saí da firma, perdemos contato. Deixei de passar com tanta frequência no calçadão da Rua XV e quando passava ela não estava atrás do balcão da loja.
Anos mais tarde, alguém me contou que ela juntou-se com outro, que eu não conheço nem sei quem é. Ele se casou com a ex-amante do patrão.
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Um dia me surpreendeu. Sentou-se à minha frente, no escritório, olhou-me fixamente e com um breve risinho disse pensei em ser sua namorada, mas estou apaixonada pelo meu colega de balcão. Você é mais bonito, mas ele tem mais corpo.
Fitando seus olhinhos castanhos, pensei aliviado ainda bem que não sou seu pretendente. Teria que sair por aí em busca de um corpo para substituir o meu, tão alto e magrelo.
Até então, eu pensava que só nós, os homens, admirávamos um corpo agradável. De mulher, claro. Não sabia que as mulheres apreciavam o mesmo nos machos, evidentemente por razões diversas. E até hoje não sei, e não pretendo saber, o que é um corpo masculino bonito, fora aqueles excessos que estragam qualquer estrutura, seja masculina ou feminina, como a protuberância abdominal, por exemplo. Sobre a beleza da escultura e das proporções equilibradas das fêmeas já nasci sabendo, ninguém me ensinou.
Num outro dia a peguei chorando. Perguntei o que foi. Respondeu ele não me quer, disse sou muito nova, criança ainda; mas queria tanto entregar a ele minha virgindade, daria agora, se ele quisesse.
Ainda outras vezes enxuguei suas lágrimas. Não fiquei sabendo se ele aceitou a oferta e fez a vontade dela. Nunca perguntei e ela jamais me falou.
Saí da firma, perdemos contato. Deixei de passar com tanta frequência no calçadão da Rua XV e quando passava ela não estava atrás do balcão da loja.
Anos mais tarde, alguém me contou que ela juntou-se com outro, que eu não conheço nem sei quem é. Ele se casou com a ex-amante do patrão.
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N. do A. – Na ilustração, Jovem Sentada de Pierre-Auguste Renoir (França, 1841-1919).