ESTRANHAMENTOS

Pedi licença e saí para mijar. Entrei naturalmente no banheiro, me dirigi ao mictório, baixei o zíper, tirei meu pinto para fora e comecei a mijar com toda a tranquilidade do mundo. Encostei o braço no apoio da mureta que estava ali e quando olhei para baixo e notei o quanto era branca e limpa e iluminada aquela minha camisa social (que eu quase nunca usava) eu fiquei realmente impressionado. De repente era um insight. Tive aquele pressentimento. De repente tive a certeza de que aquela camisa social era a mesma que seria usada em meu enterro um dia. Era como se eu fosse um defunto olhando para a barriga. Logo me lembrei de um dia quando estava na igreja e observava todos os outros irmãos vestidos com seus ternos como se estivessem todos prontos para serem enterrados. Por que, no fundo, para muita gente a igreja não passa disso, uma preparação para a morte. E por um instante era como se eu estivesse sentindo o cheiro daquelas flores, aquelas flores de velório. E aquela sensação de morte começou a tomar conta de mim até que eu olhei para o meu pinto mijando lá embaixo e finalmente tive a certeza de que estava vivo. Eu mijava! Mortos não mijam. Graças a Deus eu estava vivo e bem. Então minha urina acabou e eu chacoalhei minha ferramenta e o guardei de volta nas cuecas. Fechei o zíper. Fui ao lavatório e lavei as mãos como um bom cavalheiro. Saí do banheiro para o mundo externo ainda como se estivesse sentindo o cheiro daquelas flores de enterro, era como se ao redor pairasse aquele aroma de jasmins e margaridas. Coisa estranha.

O que é que uma camisa social branca quase nunca usada pode fazer!

Morpheus