PRESENTE

A grande caixa, aberta com expectativa, guardava a burka. Os sentimentos da menina a comemorar seus doze anos debatiam-se contraditórios. Agora estaria oculta como as colegas das séries mais avançadas. Isto era bom. Ansiava não mais ser tratada como criança. Por outro lado era evidente que perdia algo valioso. A liberdade de correr, de brincar, de ver e ser vista se esvaia. “Virou moça e não mais andará desnuda”. A avó a animava. Ao experimentar a roupa se sentiu abafada. “Calma, filha, breve se acostumará com as novas obrigações”. “Mamãe, o que as mulheres têm que precisam se esconder?” Lágrimas, em segredo, queimavam seus rostos.