Susana

I

Tenho um começo; o que tiver que vir depois, seja o que Deus quiser.

II

Depois, muito depois, da primeira saudade que lhe acontecera, Susana decidira novamente largar a vida de secretária para ser artista, de uma vez por todas.

Algo como uma idéia de fuga com o circo, como fizera seu pai, alimentada desde quando era muito criança. A mãe, muito rígida e “impossível”, sempre lhe obstruindo as infantilidades.

III

Susana acordava diariamente às cinco horas da manhã. Tomava banho, preparava o próprio desjejum, regava as plantinhas, alimentava o gato. Saía às seis e meia de casa, pegava a condução às seis e quarenta e cinco, e às sete e dez já estava em frente do seu computador, em sua modesta mesa, a redigir ofícios e ofícios para o patrão, Seu Jorge da Cunha. Depois de cumprir o seu dia, Susana pegava condução de volta para casa às seis da tarde, chegava às seis e vinte e cinco.

IV

Gira a chave na fechadura envelhecida. A maquinaria range. A porta se abre para uma escuridão profunda, a sala. Susana, a essa altura ainda com uma mão na maçaneta e a outra ocupada com sacolas de compras, tenta criar coragem para entrar. Tenta olhar mais além da escuridão; olha para os lados e para trás de si. A sala não tem janelas. Susana entra em passos silenciosos. Atravessa a porta. Num ímpeto, sai correndo em direção do interruptor que fica no lado esquerdo do aposento. Os olhos, que já estavam se acostumando com as feições escuras da sala, protestam.

V

Depois de chegar, ela sempre liga a tevê e vai preparar algo para comer.

Tomou outro banho, pegou a tigela de sopa com macarrões parafusos e sentou-se bem confortável na poltrona em frente à tevê. O gato vem enrroscar-se em suas pernas, o que ela acha muito divertido e ao mesmo tempo agoniante, porque lhe causa cócegas.

Pensa no pai, no circo. Depois da saudade, Susana decide largar a vida de secretária para ser artista, de uma vez por todas. Algo como uma idéia de fuga com o circo, tal como o pai fizera, alimentada desde que era muito criança. A mãe...

Susana assiste ao jornal, depois à novela e ao que vem depois. Mas, lá para a metade do “que vem depois”, ela dorme e só vai acordar lá para as três, três e meia, da madrugada. Põe o relógio para despertar e vai-se deitar no quarto. Susana desiste muito facilmente.

VI

Ela é saudável e, na verdade, procura alguém com quem se casar.

Rosiel Mendonça
Enviado por Rosiel Mendonça em 08/07/2007
Reeditado em 07/08/2007
Código do texto: T557221
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