As Coisas Mudam

General Fukafuka tinha menos de um metro e meio de altura, mas o ego do tamanho do Everest. Costumava tratar a todos os subordinados no chicote. Era, certamente, uma forma de compensar seu complexo de inferioridade. Esperava sempre que os soldados o temessem e o bajulassem. Quem não fizesse isso, deveria enfrentar a prisão e até mesmo castigos forçados. Porém, assim como são todas as coisas da vida, a maré iria mudar naquela semana.

Todos aguardavam a chegada de um novo regimento. De praxe, todo o pelotão, oficiais e o próprio general se punham à frente do quartel. Bandeiras erguidas, banda a tocar e a aproximação dos novos integrantes. Mais adiante, dava para enxergar um grupo a marchar em ritmo constante, movimentos ensaiados. Tudo seguia como esperado. Já ao final do grupamento, vinha um tanque de combate. O barulho das lagartas, aquelas esteiras que permitem o deslocamento do tanque, era muitíssimo lembrado e esperado por todos. Na parte de cima do veículo, percebia-se apenas um capacete e uma cabeça muito grande, comparada a dos soldados convencionais.

O general assistia o desfile com um olhar superior. O nariz estava tão empinado que seria capaz de enxergar as nuvens mais estratosféricas. Apesar disso, ele enxergava tudo e esperava que todos do novo pelotão o cumprimentassem ao se aproximarem dele. E, realmente, isso aconteceu. A exceção foi do soldado que guiava o tanque. Este passou, mas não levantou o braço, até porque somente sua cabeça estava fora do tanque. O resto do corpo estava imobilizado dentro do veículo.

Fukafuka ficou furioso. Começou a discutir com todos os oficiais. Ordenava a prisão imediata do soldado do tanque. Estranhamente, ninguém aparentava querer obedecer suas ordens. A fúria do general atingiu patamares ainda não conhecidos. Desceu do palanque e foi em direção ao tanque.

O soldado no tanque era um gigante. Ninguém conseguia entender como ele tinha conseguido entrar naquele veículo. Saiu com muita dificuldade, passando membro a membro pela pequena porta. Ele não parecia gostar de passar por essa dificuldade, talvez quisesse ficar ali mesmo, morando naquela lata de sardinha. Enfim, quando já se esticava em pé, começou a ouvir os berros do general. Ouviu palavras como “disparate”, “inconsequente” e depois percebeu que estava sendo chamado de idiota.

- Idiota! Retardado! Não está me ouvindo! Sou o general Fukafuka e exijo respeito!

O gigante se aproximou, o levantou pela cabeça e o olhou frente à frente, diretamente nos olhos. Apesar de grande, ele não era covarde. Gostava de falar com o outro na mesma altura.

- Mas, quem seria aquele homenzinho barulhento? Pensou ele.

Antes de ser levantado, o pequeno general começou a berrar:

- Largue-me seu insolente!

O homenzinho sentia as dores por estar ainda levantado apenas pela cabeça. O peso de todo o resto de seu corpo esticava demasiadamente seu pescoço, o fazendo sofrer uma dor semelhante a um enforcamento. Por fim, o gigante o segurou pelas calças e o jogou mais adiante. As calças ficaram rasgadas e se pode ver o borrão das fezes que o general liberou.

O gigante soldado foi preso com certa dificuldade, pois ele era o ídolo do novo pelotão. E o general passou a falar fininho, e teve que aprender a conter seus chiliques…

Antonio M A Menezes
Enviado por Antonio M A Menezes em 19/05/2016
Reeditado em 17/06/2016
Código do texto: T5640762
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