(Baseado na música: O Menino da Porteira de Teddy Vieira e Luís Raimundo) 

Ah! As velhas estradas de Ouro Fino... Foi viajando por elas que conheci aquela linda mulher, pela qual fiquei encantado por muitos anos. Vivemos uma paixão intensa, até que um dia, ela deixou de me esperar na encruzilhada.
Nunca deixei de amá-la. Cheguei a desconfiar que ela fugiu porque estivesse grávida e temia que o marido soubesse que o filho poderia ser de outro homem, no caso eu.
Hoje, durante as viagens, me lembro dos velhos tempos. Dói-me o corpo, a alma e principalmente o coração. Sinto saudades daquele menininho magro, de cabelos escuros, que corria e abria a porteira dizendo:
— Como pagamento seu moço, toque o berrante, que é pra eu ficar ouvindo!
Era um garoto muito esperto. Tinha uma simplicidade, uma alegria que me contagiava. Eu, com imenso orgulho, saia tocando o berrante. Quando a boiada passava e a poeira baixava, eu jogava uma moeda e ele saia pulando. Nunca se esquecia de agradecer e rogar a Deus que me acompanhasse.
Isso aconteceu inúmeras vezes. Sofri muito nessa vida, meu caminho sempre foi cheio de pedras e espinhos.  Mas de todo coração, vou lhes contar que nunca houve nada mais triste do que eu passei naquela tarde, quando levava uma boiada pelo sertão goiano.
Preocupei-me quando não vi a figura ingênua do menino. Estranhamente a porteira se encontrava fechada. Perto da curva da estrada, avistei um ranchinho beira chão.  Sentada no barranco, vi uma mulher chorando. Larguei a boiada, desci do cavalo e fui até ela, saber qual era a razão da tristeza.
Ao me aproximar, vi Helena, minha amada. Em meio à tristeza daquela mulher, por um instante notei espanto e emoção, ao me reconhecer e aos prantos me abraçou dizendo:
Estou sem chão e a beira da morte! Perdi meu marido faz algumas meses e agora perdi o nosso filho!
Misturado com espanto, um misto de alegria ao saber que tive um filho e a dor terrível por saber que este estava morto, sem aos menos me chamar de pai... Helena prosseguiu:
Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão. Quem matou nosso filhinho, foi um boi sem coração!
 Minha suspeita se confirmara. A tristeza, a mágoa, a dor, a culpa, já haviam me possuído por inteiro. Sentei ao lado de Helena e choramos... Choramos muito, até chegar a minha hora de partir. Infelizmente tive que seguir, eu, DEUS e a boiada.
Hoje em dia, viajo por que preciso. Posso ver a imagem do meu filho, quando passo pela porteira. A cruz no estradão, nunca mais me saiu da cabeça, assim como a imagem triste de minha querida Helena.
Perdido e sem rumo, fiz um juramento que sigo ate hoje: "Nem que meu gado estoure, e eu precise correr atrás, nesse pedaço de chão, berrante eu não toco mais"! ’’
 
Autora: Gabriela Moraes de Faria – 2º serie – EM
Letras da Canastra
Enviado por Letras da Canastra em 20/05/2016
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