O DIA EM QUE EU FUI ABDUZIDO

Quando eu fui abduzido pela primeira vez, tinha uns 15 anos. Não me adentrarei em detalhes de como ocorreu essa aproximação, visto que só servirão para corroborar com o ceticismo de meus poucos leitores. Por outro lado, não posso deixar de contar, mesmo que de forma genérica, que que estive dentro daquilo que chamamos de disco voador e conversei com alguns daqueles a quem denominamos ETs.

Extremamente educados, falavam um português correto, com um sotaque incomum a minha experiência de até então e de até hoje. Perguntei se todos falavam a nossa língua, ao que responderam que todos são educados para falarem todas as línguas da terra e a de outros planetas. Embora seja um processo demorado, tempo para eles nunca foi um problema. Vivem muito e não contam o tempo em anos, mas em milhas, como se o tempo e o espaço fossem uma coisa só. Ainda falaram que embora seja possível fazer uma conversão para a nossa contagem, seria de difícil compreensão para mim, além do mais, não era por isso que tinham vindo. O propósito deles era relativamente simples. Recrutar humanos para aprender mais sobre nós. Eu não era o primeiro e nem ia ser o último. Perguntei por qual motivo tinha sido escolhido. Nada em especial, disseram eles. Na verdade, exatamente pelo motivo de eu não ter nada em especial. Pois em outros tempos recrutaram pessoas notáveis e aprenderam que, ao fazer isso, a terra perde muito e eles não ganham mais do que se tivessem recrutado alguém como eu. Era um rapaz comum. Meus pais tinham outros filhos que, inclusive, eram mais bonitos e mais inteligentes que eu, de forma que a minha falta ao mundo seria menos sentida. Além do mais eu já começava a apresentar alguns problemas com as bebidas. Sendo assim, meus pais seriam, na verdade, poupados. Parecem duras as palavras, mas a forma com que falavam não soava de forma alguma como algo pejorativo. Talvez por que isso não significasse muito para eles. De qualquer forma, recusei o convite, seja por que eu era um rapaz otimista e orgulhoso demais da minha humanidade ou por puro medo do desconhecido. Seja como for, prometi não contar nada a ninguém sobre o episódio até a data de hoje, por motivo que não me falaram.

Por isso que destes 15 anos pra cá, nas ocasiões em que me perguntaram sobre vidas em outros planetas, sempre respondi de forma a não contrariar o senso comum, tentando mudar de assunto pra não cair na tentação de quebrar minha promessa. Isso acaba hoje. Pois ontem, como que para me lembrar da minha promessa – não só a de manter o segredo, mas também a de dizer a verdade ao mundo no dia combinado – despertei de madrugada e não consegui mais dormir. Resolvi abrir a janela e acender um cigarro. E lá estavam eles, misturados com as estrelas, como a me vigiar. No início da minha confissão eu disse que tinha sido abduzido pela primeira vez. Aguardo a segunda. Mas desta vez não recusarei. Voarei para longe até o mundo ficar pequeno e os meus erros insignificantes.

Peço que compartilhem essa história como se verdade fosse. Pois com tantas histórias falsas que circulam por aí, talvez acreditem até na minha.

Lucas Esteves
Enviado por Lucas Esteves em 08/06/2016
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