Eu matei Sofia

Em uma mesa pequena, com meu corpo curvado, leio todas as minhas escritas antigas. Eu ficava fascinado com a imensa ternura que existia ali. Algo tão irreal e - talvez - verdadeiro. Era aquele amor tão lindo e puro, que chegava a invejar. Cada texto, uma inocência. Mordendo meus lábios, eu disse que queria viver aquilo, mas precisaria matar alguém. Não uma pessoa qualquer. Devia ser uma jovem, bela, envolvida no amor e nas cores. Aquela que percebeu os sentidos e deu importância ao percebido.

No outro dia, recebo um convite para o baile de máscaras. Um momento tão ideal como esse não podia ser desperdiçado. Todas as faces estariam lá. Era a chance de encontrar e supreender. Quem sabe o desejo de saber. Botei a minha melhor máscara. Jovem, belo, envolvido no amor e nas cores. Não seria difícil enganar aos trouxas daquela festa. Estava determinado a ir atrás da minha busca. Era tudo uma questão de tempo.

Eram dez da noite. Chegara na festa com aquela cara de bom moço e coberto de sorriso. Cumprimentava todo mundo. Não encontrava quem queria. A mestre de cerimônia clama pelo concurso de máscara. Fico ali, em pé, observando todas as facetas. "Que entre Sofia!". Meus olhos vidraram. Era uma moça viva, com uma máscara tão linda. Seu vestido brilhava. As pessoas admiravam. Era o alvo perfeito.

Ao descer, deparo-me com a garota. Cumprimento-a com um enorme sorriso. Devia fingir bem minha máscara. Chamo para conversamos diante de uma praia próxima do local. Ela contava lindamente seus anseios e desejos de amar. Era bela e cheia de cores. Tinha um amor tão puro que confiou em mim. Eu, só ouvia e fingia adorar aquilo tudo.

Meia-noite em ponto. A Cinderela morreria abóbora. Peguei-a pelos braços. Arranquei com minhas unhas sua máscara. Rasquei o seu vestido mais bonito. Ela chorava por dentro. Mantinha-se serena. "Eu já esparava isso" - dizia com uma voz seca. Cravejei minhas mãos em seus cabelos lisos e de luzes loiras, puxando-a para o mar calma. Afoguei-a em suas incertezas. Aquilo viroi minha certeza. Perdeu-se o ar. Agora, ela morreu. Para ninguém lembrar, roguei seu corpo em alto mar e minha máscara enterrei na areia fria. Eu matei Sofia.

No outro dia, era de se imaginar que todos sentiram falta daquela figura tão pura. Em verdade, todos a esqueçam assim que o mar levou seu corpo embora. Alguns seres ainda perguntavam pra mim sobre Sofia. Dava um sorriso de plástico, apenas dizia estar bem. Eu consegui o amor que queria. Sai com desejo de quero mais, mesmo com receio de novos perigos. E a Sofia, sumiu nas profundezas.

Sofia do Itiberê
Enviado por Sofia do Itiberê em 27/08/2016
Código do texto: T5741214
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