O MOTOQUEIRO DAS DEZ

Era dez horas da noite, quando Sr. José Ramos se preparava para dormir em sua humilde casa, quando, todo dia, por volta das dez horas da noite, um ruído ensurdecedor de uma motocicleta passava pela sua rua. Todo dia era essa barulheira que a todos perturbava, a grande potência do escapamento, provocava um barulho insuportável.

Senhor Ramos muito revoltado com a situação em ter o seu sossego perturbado pelo barulho da moto, resolveu tomar uma atitude, aguardar silenciosamente a passagem do motoqueiro que, pontualmente passava dez horas da noite, assim que o motoqueiro passou, o revoltado senhor ficou de tocaia em sua janela armando-se de um estilingue e uma bola de gude, assim que viu o vulto do motoqueiro, acionou o estilingue e atirou a bola de gude que pegou em cheio a cabeça do motoqueiro provocando-lhe a queda.

O acidente foi horrível, o rapaz caiu e se feriu gravemente sendo socorrido e levado ao hospital, enfim o senhor Ramos comemorava a sua vitória e teria o seu merecido sossego, no dia seguinte, o velho liga a televisão e assiste ao noticiário que, naquele momento, estava relatando a morte de um rapaz numa moto causada por um acidente, enfim, o caso foi alvo de investigação.

Sr Ramos ficou apreensivo num determinado momento, mas, repensou dizendo a si mesmo:

_ Se não tivesse perturbando a paz alheia, nada disso tivesse acontecido.

Concluindo o seu pensamento voltou a sua rotina. Enfim a noite chega, e mais uma vez, Ramos comemora o sossego conquistado, ao se deitar, ouve novamente, na rua em que mora, o barulho ensurdecedor de moto, parecia semelhante a mesma do rapaz morto. Ele abre a janela e nada encontra, e assim passa-se várias noites seguidas.

Uma noite, Ramos não aguentando mais tamanha amolação, sai com sua arma e desafia ao individuo que está praticando tamanha diabrura dizendo:

- Covarde! Vagabundo! Apareça se tiver coragem ou vá embora e deixe –me dormir em paz!

Mal terminou a frase quando ele avista um individuo todo ensanguentado em seu capacete, montado numa moto toda arrebentada, rindo num ar de deboche, se aproximando dele, a aparição lhe olha fixamente e diz:

- Sou aquele que você tirou a vida, e o atormentarei até que você se entregue e confesse o seu assassinato, somente assim minh’alma poderá partir e descansar, do contrario, esse barulho será o seu mar de tormento para todo sempre. Sr Ramos, mal podia acreditar, as pernas tremiam, seus cabelos, embora poucos, ficaram em pé diante de tal visão.

E agora, o que eu irei fazer? Pensava, o que direi a minha mulher? E ainda aos meus filhos? Que matei um homem? Não, nunca!

E assim por algum tempo, a morada do Sr Ramos virou um inferno, ele já não dormia, não comia direito, e a sua consciência o atormentava dia e noite, foi quando teve uma idéia, ir a um centro espirita de um conhecido seu para encontrar solução ao problema. Ao chegar nesse centro, uma entidade incorpora, olha com desdém ao velho e diz:

- Velho idiota! Eu já lhe disse ! você tem que se entregar à policia! Se assim não fizer, jamais poderei descansar, e continuarei passando por sua rua com meu cavalo de metal, fazendo muito, mas muito barulho. Após várias tentativas de trabalho, encomenda, despachos em encruzilhadas, nada adiantava, e o fantasma aparecia e fazia arruaça.

Foi quando chegou à conclusão que era hora de dizer a verdade a sua família; chamo a esposa e filhos dizendo que ia a delegacia para se entregar e confessar o assassinato do motoqueiro da noite, apelidado de motoqueiro das 10, pela pontualidade em que passava na rua e fazia aquele barulho infernal.

E assim o fez, ao relatar ao delegado todo o ocorrido, a autoridade policial se volta contra ele e diz:

- Não há evidencia contra o senhor, e nenhum objeto cortante ou mesmo a tal bola de gude foi encontrada no cadáver, pode ir para casa seu Ramos, creio que o senhor anda vendo muito filme de terror!

Senhor Ramos, muito encucado, ainda perguntou várias vezes ao delegado se o laudo estava correto, o policial se irrita e rispidamente pede ao velho que se retire da sala. Ao chegar em casa, relata a mulher o ocorrido e a mesma lhe diz para ficar em paz com sua consciência que, embora intencionasse em machucar ao motoqueiro, não tinha a intenção de matar.

E de consciência mais leve, a noite chega e às dez horas o barulho recomeça mais intenso, chegando a janela de seu quarto, quando Ramos abre a janela e avista ao fantasma, já não ensanguentado, mas envolvido numa luz brilhante, olhando fixamente ao velho, lhe diz:

_ Enfim velho, confessou o seu arrependimento, de fato não foi sua bola de gude que provocou minha morte e sim o travamento do guidão de meu cavalo. Sua intenção de me machucar não permitia que eu partisse desse mundo, enfim a chave da eternidade me foi concedida e poderei finalmente atravessar aos portais do além, que isso lhe sirva de lição, da próxima vez, pense muito em cometer tamanha atrocidade.

Dito isso, a luz que seu corpo envolvia, tornou-se mais intensa, e sumiu da mesma forma que apareceu; o Sr Ramos, de pé, juntou as duas mãos e pediu a Deus o perdão e prometeu de pés juntos que daquela hora em diante, pensaria mil vezes antes de tomar atitude, seja com o pior inimigo de sua vida.

Lipis
Enviado por Lipis em 14/09/2016
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