Encontro marcado pela internet

Dedicado a Woody Allen

e seus zilhões e zilhões de peças essencialmente iguais

umas as outras

que já deram no saco de

todo mundo

— Oi, você que é a Aline?

— Sim. Desculpa, te conheço de algum lugar?

— Eu sou o Guilherme da internet... O Gui! Não ta me reconhecendo?

— Nossa, VOCÊ é o Gui?

— Sim, sou eu! De calça jeans, camisa xadrez e óculos escuros gigantes que nem a gente combinou. Que foi? Parece meio desapontada.

— Não, não é isso. É que você, ao vivo, é tão diferente da foto...

— Melhor, eu espero.

— Pensei que você fosse mais alto.

— Que quer dizer com isso?

— Quero dizer que pensei que você fosse mais magro.

— Eu também.

— Você também o quê?

— Também pensei que fosse mais magra.

— O que foi que você disse?!

— Olha, acho que começamos mal. Que tal tentarmos de novo?

— Não sei.

— Ah, vamos lá! Já estamos aqui mesmo né? E não é como se fossemos ficar mais jovens nem nada.

— Já ouvi essa antes.

— É, eu também. Escute, só estou tentando ser um cara legal. Você sabe que eu sou um cara legal, não sabe? Quem mais acordaria às seis horas da manhã num domingo, após um porre homérico no sábado, para teclar com você sobre a morte do seu peixinho dourado Nemo? Viu, até o nome do nome do seu peixinho eu me lembro!

— Vá lá isso é verdade. Pensando bem até que você não é tão mal assim. Seu cabelo é legal. Melhor que o da foto da internet.

— O seu também. Sua pele é legal também.

— Minha pele?

— É. Ela não é oleosa e nem fina que nem uma folha de papel. Parece que vai envelhecer bem.

— Ah, obrigada. Eu acho...

— Não tem de que. Posso me sentar aí do seu lado?

— Claro, só não chegue perto demais; ainda estamos nos conhecendo.

— Ok. Vai um cigarro?

— Não fumo. Você sabe muito bem que o meu pai morreu de câncer.

— Eu sei. Só estava quebrando o gelo. Espere! Trouxe uma lembrancinha pra você!

— Ai, obrigada! Adoro presentes! Ei, mas o quê é isso?

— É um aparelho que serve para tirar as sobrancelhas; e o melhor, sem dor nenhuma! O que ele faz é cortar os pelos bem rentes à pele. Você também pode usar nos pelos do nariz e das axilas! E aí, não é demais?

— Realmente. Estou petrificada de emoção.

— Lembrei que você tinha dito que detestava fazer sobrancelha.

— É.

— Que foi? Não gostou do meu presente?

— Na verdade, gostei tanto que nem vou usar.

— Que quer dizer com isso?

— Nada.

— Nada?

— Esquece.

20 minutos depois...

— Parece que vai chover.

— É.

— Com esse calor todo até que não vai mal.

— É.

— Acho que vem uma frente fria também, veja aquelas nuvens...

— Gui, tenho que te dizer uma coisa.

— Claro, manda a ver.

— Acho que é melhor eu ir andando.

— Como assim? Mas você acabou de chegar!

— É, mas parece que vai chover e eu não quero molhar o meu cabelo. Tenho um compromisso mais tarde.

— Compromisso? Como quem??

— Realmente acho que isso não é da sua conta.

— Como não? A gente se conhece há quase dois anos e você fica aí se comportando como se fosse a oitava maravilha do mundo com esse seu casaco horrível e tudo...

— O que foi que você disse?!

— Que você fica aí pensando que é a última lata de Skol gelada no deserto. Além do que, é mal agradecida.

— Ah tá! Obrigada por me dar de presente esse... esse troço! Muito romântico da sua parte.

— Não tem de quê.

— Cara, você é um babaca mesmo.

— Essa é nova.

— Quem você pensa que é com esses óculos escuros ridículos e essa camisa que você comprou na feira?

— Não sei. Me diga você.

— Pois eu vou dizer: Você é um babaca...

— Você já disse essa.

— Me deixa terminar!

— Termine.

— Você é um babaca, e eu não ficaria com você nem que você fosse o último homem na face da terra e o futuro da humanidade dependesse da gente!

— Você aprenderia a gostar de mim com o tempo. Quanto ao futuro da humanidade, estou me lixando; podem morrer todos afogados num rio de vômito.

— Que encantador. Fui.

— Espera aí, Aline!

— Esperar o quê? Tira a mão do meu braço senão eu grito!

— Ok, ok, já tirei. Jesus...

— Fala logo!

— Olha, vamos acalmar os ânimos. Senta aí e fuma um cigarro comigo. Sei que não foi legal aquela coisa de ficar falando mal do seu casaco e tal, mas é que eu fiquei com ciúmes, sabe? Quando você falou que tinha um compromisso e disse que não era da minha conta...

— Ciúmes? Essa é boa! Você mal me conhece, cara!

— Pare de ficar me chamando de “cara”! Até parece que a gente não se conhece há uns dois anos e meio. Que é uma briguinha para acabar com uma amizade tão bonita e de tão longa data?

— Você me tira do sério...

— O amor e o ódio são sentimentos muito parecidos.

— Lá vem você de novo.

— Existe um rio de lágrimas por trás dos meus olhos.

— Sei.

— Você me faz querer ser um homem melhor.

— Jack Nicholson disse essa em “Melhor Impossível”.

— O que vale é a intenção.

— Ahã. Você está mais para PIOR impossível.

— Muito engraçada. Tá bom, eu desisto.

— Até NUNCA mais.

— Não ganho nenhum beijinho de consolação?

— ...

2 meses depois...

— Oi, você é a Cláudia?

— Sim, sou eu. Escute, estou esperando um amigo meu, então, se você não se importa...

— Lá vamos nós outra vez...

~O Maldito Escritor~ 08/04/2012

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Gilberto Sakurai
Enviado por Gilberto Sakurai em 03/10/2016
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