Saiu da sala com uma tristeza pesada no peito. Por que aquilo sempre lhe acontecia? Por que sua história não era como as histórias das amigas que se apaixonavam, eram correspondidas, felizes?
Percebeu o mal-estar que causava nele. Decerto sentia-se culpado por não ser capaz de retribuir ao seu amor. Homens. Sempre carregando o peso do mundo nos ombros. Homens lindos como ele, é claro. Ou ela não teria se enamorado.
Despediram-se com um abraço acanhado. Ela acarinhou o rosto dele com um toque suave de ternura. Já não havia nada a ser feito. Deve-se fazer algo no território do amor além de deixar-se levar em seu voo etéreo?
Sentiu os passos dele atrás de si. Não se voltou. Tivesse Orfeu deixado o hades com aquela dor pungente a sua Eurídice teria-lhe aberto os braços quando avistassem a luz do sol. Mas os deuses são cruéis. Deram ao poeta o malefício da dúvida. Sabiam que ele era fraco. Sabiam que ele sentiria o desejo ardente de ver mais uma vez o rosto da mulher amada. Pois não são os deuses oniscientes?

Quando deu por si já se encontrava na estação. O sol lançava seus últimos raios sobre os trilhos.
Pensou na Karenina. Desde que lera o romance associava trilhos à infeliz heroína de Tolstói.
Infeliz? Pois não tinha sido profundamente amada por dois homens, o belo Vronski e o correto Karenin? Não, Ana Karenina não era infeliz. Não sabia o que era amar sem ser amada. Ademais fora uma tola. O porvir sempre reserva surpresas.
Com esse pensamento otimista ela ouviu o metrô aproximar-se. Os vagões eram verdes. Da cor da esperança. Da cor dos olhos dele. E por ser tão bela a cor verde, ela saltou.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 07/10/2016
Reeditado em 21/03/2017
Código do texto: T5784711
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