Sobre amor e mulheres.

V. chegou pela porta da sala, puxou uma cadeira e disse.

- Não aguento mais. Puta que pariu. Não aguento mais.

O olhei tentando entender o motivo daquilo.

- O que aconteceu, cara?

V. se manteve calado e eu percebi que talvez a coisa fosse mais grave do que parecera inicialmente.

Fui até a geladeira abri uma cerveja, enchi dois copos e ofereci um para o meu amigo.

Ele me olhou com os olhos marejados, a ponto de chorar e bebeu metade do seu copo de um gole só. Esperei que recuperasse o fôlego e deixei que falasse.

- Eu fiz merda, cara.

- Todos nós fazemos. Você precisa ser mais específico.

- Acho que perdi ela pra sempre. – Disse, se referindo a uma amiga que tínhamos em comum. Eu sabia que era ela, pois havia pouco, os dois tinham rompido um caso amoroso.

- Pra sempre é muito tempo. – Repliquei.

- Cara. Ela tá com outro.

- Acontece com todas as mulheres, V. Uma hora elas descobrem que não precisam de nenhum homem em particular e seguem com a vida delas.

- Como você pode ser tão frio sobre isso?

- Conhecimento de causa. Já tomei uns pés na bunda como esse seu.

- Foi culpa minha. Acho que eu não fiz o suficiente.

- Olha, V. A gente nunca faz o suficiente. A questão é você demonstrar o esforço.

- Como assim?

- Porra, eu sempre te vi em cima do muro com ela.

- Em cima do muro?

- Sim. Ela precisava de mais atitude da sua parte.

- Que tipo de atitude, caralho? Por que você tem que ser tão enigmático.

- Foi mal, V. Preciso de um pouco mais de cerveja.

V. suava de ansiedade e batia freneticamente os pés no chão.

Enchi novamente nossos copos e continuei.

- Veja só. Acho que você tomava essa sua relação como algo muito certo, faltou cuidado. Faltou atenção.

- Atenção? Mas eu estava sempre com ela.

- Mas você a ouvia?

- Ouvia, oras.

- Bem... então para você, o que motivou o rompimento?

- Não sei cara. De uma hora pra outra ela disse que não queria mais.

- E você acha que foi injusto?

- Não sei...

- Nenhuma mulher gosta de ser tratada como amiga quando ela quer ter algo mais.

- Com você falando assim parece que isso é algo bem óbvio.

- Porra V. não basta você tratá-las bem. Você tem que demonstrar o seu desejo. Tratá-las como mulher.

- Como assim? Eu a tratava como mulher.

- Não tratava. Ela não queria um amigo pra transar. Eu podia ver isso. Com certeza esse cara com que ela está agora também.

V. engoliu seco.

- Ela precisava de paixão, V. Queria se sentir única, desejada, exclusiva. Qualquer Zé ruela consegue fazer uma mulher se sentir assim por algum tempo. Só que a maioria dos caras só faz isso até levá-las pra cama. Depois disso, a maioria deles pega o caminho da rua.

- Isso soa bizarro.

- Não é bizarro. Mas é complicado. Por isso vemos tantas mulheres machucadas por ai. Boa parte delas prefere uma ilusão intensa que dura algumas noites do que algo duradouro mas que brilhe menos. Talvez se você tivesse verbalizado que queria estar apenas com ela, as coisas tivessem sido diferentes.

- Mas e ai, o que eu faço?

- Não sei meu velho. Tenha paciência. Talvez as coisas se ajeitem naturalmente. Eu não tenho um manual de instruções sobre as mulheres. Nem o Diabo tem, pelo jeito.

V. me olhou desolado, e eu continuei

- No meio tempo, podemos beber. A cerveja sempre está ai quando precisamos.

- Você tem razão. – Disse-me, segurando o copo e encostando-o na testa suada.

- Certas coisas nós podemos nos dar ao luxo de perder na vida, mas uma boa mulher certamente não é uma delas. Quando encontrar uma, se certifique de que ela saiba como você se sente.

- Por que você sempre termina soltando essas suas frases filosóficas, cara?

- tá ai algo que não consigo evitar...

- vamos beber. É o melhor que fazemos. – disse-me finalmente

Fui até a geladeira e trouxe outra lata.

Precisaríamos de muitas naquela tarde.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 22/11/2016
Reeditado em 12/12/2016
Código do texto: T5831187
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