Aquaplay

No começo as moléculas estavam bem juntinhas. A probabilidade era que um chá fosse feito, tanto que de tão juntas e, por causa do forte calor, as moléculas estavam em clima de festa. O agito era crescente e aos poucos algumas daquelas moléculas travessas foram deixando sua forma original e alcançaram a maturidade do vapor. De repente alguém apagou o fogo. Elas sabiam que a festa acabaria, mas acreditavam piamente que continuariam juntas. Devagarzinho, a música foi sumindo e elas pararam de dançar. Estavam mais calmas, mas a união foi mantida por um bom tempo. Depois não houve mais festa. As moléculas que ficaram sentiam saudade das que se haviam evaporado daquele recipiente. E durante mais ou menos duas horas elas permaneceram ali mais unidas do que nunca. Então, passou uma sombra na cozinha e elas tremeram de preocupação. Não sabiam de quem se tratava e temiam que algo lhes acontecesse. A sombra se aproximou da chaleira, pegou-a e começou a separar as pobres moléculas. Apesar de colocadas em pequenos compartimentos brancos, as moléculas esperavam que ainda se mantivessem unidas. E do nada, a temperatura foi mudando... Parecia que um inverno terrível havia chegado. As moléculas foram se separando... E aquilo que elas representavam juntas foi se perdendo... Elas ouviram de lá de dentro do gelado ambiente alguém dando um novo nome a sua família-água: gelo. Com o tempo, elas entenderam que, para que aquilo acontecesse, eram necessárias duas coisas: a frieza extrema e o tempo; aquele mesmo que antes era amigo e que agora é algoz. Mesmo separadas, elas ainda esperavam que um dia voltassem a se unir. E continuaram assim durante dois longos dias. Foi então que alguém resolveu fazer um lanche. O ambiente enevoado foi aberto e as moléculas puderam conversar um pouco. Perceberam que tinham as mesmas esperanças de união. Algumas delas não conseguiam se comunicar; a maioria, na verdade. Aí algo inesperado aconteceu: alguém lá de fora tirou o objeto com compartimentos brancos do ambiente gelado. Todas sorriram, como se o sol voltasse a brilhar. Sentiam um fogo que há muito não sentiam. O calor foi aumentando e elas voltaram a sair de casa, à medida que caíam em deliciosos copos de limonada. A união se deu numa crescente e, mesmo as moléculas mais resistentes foram cedendo. Elas sabiam que tinham uma missão familiar: a de cuidar daquelas pessoas que as salvaram da neve extrema. E assim foi. Antes que cumprissem sua missão, elas viram outras moléculas amigas sendo levadas para o ambiente de gelo. Ficaram tristes por elas, mas já sabiam que um dia (dali a pouco tempo) elas também teriam missões importantes para o bem estar daqueles seres. E dali em diante, elas nunca mais se separaram.

Tom Cafeh
Enviado por Tom Cafeh em 03/12/2016
Reeditado em 06/12/2016
Código do texto: T5842501
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.