Por apenas cinquenta centavos

Por apenas cinquenta centavos

Não devia ter mais que cinco anos. Bateu no vidro do carro e apresentou sua pequena caixa de natal. O orifício só cabia a passagem de moedas. De um real no máximo. Sem receio, alheio à paranoia que tem tomado conta de muitos nas grandes cidades, baixei o vidro e nela coloquei uma moeda de cinquenta centavos que encontrei no consolo do veículo.

O garoto abriu um sorriso sem tamanho, como se o sol tivesse surgido de obscuras nuvens, como se as flores se abrissem todas naquele momento, como se não mais houvesse miséria no mundo. Também sorri. Não como o riso dele. Não pensei, nem por um instante, que aquela inocência pudesse estar sendo vítima da exploração de mães interesseiras e irresponsáveis. Não refleti sobre as recomendações de entendidos de que não se deve dar dinheiro a crianças. Nada disso. Simplesmente me deliciei com aquele sorriso de dentes claros e belos. E sorri mais uma vez.

Com que alegria correu em direção a alguns adultos e crianças que estavam próximas. Saltitante, feliz, como se tivesse ganho o maior presente do mundo, sacudindo sua caixinha. Não sabia ele que eu era quem tinha sido agraciado. Segui o meu trajeto mais leve, mais feliz. E aquele belo sorriso, que me contagiou e me comoveu, só me custou cinquenta centavos.