Zoe Dameron

Capítulo 2

 
   Algo que talvez eu nunca irei obter a resposta é como Daisy transformou-se em uma garota rebelde e fumante. Sim, nunca consegui fazê-la largar deste vício terrível, assim como, acabei por aprender a compartilhar disto. A medida que você sofre nas ruas por andar de mãos dadas com uma garota, é preciso encontrar algo que te faça viajar entre os mais distantes pensamentos.
   Lembro da primeira noite em que fumamos juntas, perto da janela do apartamento apertado, a lua iluminava nossos rostos, fazendo com que ela ficasse ainda mais bela. Nos beijamos várias vezes naquele dia.
   Passei por um período conturbado quando finalmente descobri que me sentia mais à vontade com garotas, o primeiro desafio foi contar a minha mãe. Lembro da desaprovação dela, das palavras ofensivas e da situação que tudo aquilo causou, mais tarde descobri que ela realmente não me compreendia. Meu pai foi quem me surpreendeu, esperava mais e mais argumentos ruins, quando ele apenas me abraçou e agradeceu.
   Jamais irei esquecer aquele dia, ele entrou em meu quarto e avistou-me ali, chorando apoiada a janela. Não podia mais esconder, foi então que um sorriso brotou em meus lábios depois daquele abraço.
   O tempo foi o melhor remédio para me ajudar a superar toda aquela desconfiança. Demoramos cinco anos até finalmente conseguirmos ficar juntas e hoje, temos nosso lar, nossas coisas e momentos eternos. Daisy foi a grande responsável por isso, me ajudou a levantar, me ensinou a me libertar.
   Penso tanto sobre os anos que levei escondendo minha essência, toda aquela angústia escondida em meu peito. Mas, hoje, não posso mais fazer isso, o mundo é tão vasto para deixar-se chorar em um pequeno quarto.
-Você devia olhar para o céu. – Daisy estava sentada ao lado da janela com um cigarro acesso entre os dedos.
-O que tem de tão especial lá em cima? – Perguntei.
-Tem essa imensidão, a gente pensa que o mundo é enorme, mas se compará-lo as estrelas, somos mera poeira dentro do universo.
   Daisy tinha uma teoria um pouco maluca sobre para onde nossas almas vão quando morremos, para ela, cada ser humano que foi bom torna-se uma estrela e cada ser mal torna-se poeira espacial. Tudo bem que ela fez estes argumentos depois de bebermos uma garrafa de vodka.
-Venha. – Ela fitou-me com os olhos. – Não as considera especiais? – Concluiu.
-Sim. Mas a única estrela que me importa ainda não está lá em cima. – Nos beijamos poucos instantes depois.

 
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 03/02/2017
Reeditado em 17/02/2017
Código do texto: T5901770
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