O PRISIONEIRO DAS RUAS

Já são altas horas da noite quando forma-se uma fila de irmãos à espera da sopa, do agasalho e da palavra amiga dos membros de uma ONG dedicada ao amparo aos moradores de rua.

Nessa fila, encontra-se Rodrigo, habitante das ruas já há alguns anos, contando com a sorte e a boa vontade das pessoas para conseguir almoçar e jantar.

Vive da coleta de material reciclável, conseguindo algum provimento monetário para sustentar um mísero barraco em comunidade carente. Mas, na maior parte do tempo, vivia nas ruas, chegando a dormir debaixo de pontes e em ruas escondidas, tendo outros irmãos em condição semelhante e os cães vira-latas como companhia.

Não aceitava habitar em abrigos e nem praticava furtos ou qualquer forma de ilegalidade.

Tinha uma existência bastante limitada, mas vivia com um sorriso no rosto, sem queixar-se da sua situação.

“Mas, nas ruas, eu sou livre”, respondia Rodrigo sempre que era questionado a respeito do seu gosto voluntário pela sua condição.

Reportando-nos à época dos senhores feudais, vamos encontrar Nícolas, pobre lavrador e artesão, de cujas mãos saía o seu sustento e que servia para manter o luxo afrontoso do senhor das terras que habitava.

Não mais suportando o silêncio diante de tamanha injustiça, passa a manifestar-se contra o cruel senhor, através de atos de desobediência civil e do despertar que oferecia aos demais agricultores, o que lhe custou a liberdade.

Capturado pelos soldados do senhor feudal, Nícolas foi posto a ferros, permanecendo em cárcere por longos 27 anos, tempo em que não mais viu o sol nascer e onde foi perdendo a sua saúde até a chegada do desencarne.

Depois dessa experiência, Nícolas viveu existências como mercador de especiarias, marujo de navegações transoceânicas, caixeiro viajante e outras tantas atividades, sempre contando com a liberdade como companheira.

Hoje, como Rodrigo, não diferente dos últimos pretéritos, Nícolas dedica-se à contemplação à liberdade.

Não interessava conforto, fartura ou fixação. Estabilidade era vocábulo desconhecido por este irmão.

Afinal, 27 anos de cárcere total e cruel são motivos mais que suficientes para se valorizar a liberdade.

André Luiz Gadelha
Enviado por André Luiz Gadelha em 31/03/2017
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