O RARO ESTÍMULO DE NÃO TER MEDO

Um arco-íris completava com beleza a confusão climática daquele dia de outubro, de um ano tão conturbado para Gabriel. Ele vivia com um pouco de medo, um medo que só ele sabia qual era, só ele sabia o quanto esse “medo” era uma defesa para ele. Ia vivendo assim mesmo, fazendo novas amizades, dia pós dia, mesmo que os dias não tivessem aquele brilho e valia de outros em um tempo recente.

Seus dias eram marcados por muito trabalho em um ritmo frenético que parecia não ter mais fim. Sabia que o dia de descanso e paz estaria chegando, mas mesmo assim perguntava-se onde encontrar uma sensação que há meses não mais possuía. Acordava alguns dias e pensava consigo mesmo o quanto estaria rodeado de pessoas tão maravilhosas, e conhecendo surpreendentemente novas amizades em dias os quais havia pensado muito antes de sair de casa. Em outras ocasiões se deparava com a realidade de ter se aproximado e conhecido melhor alguns de seus amigos. Perguntava-se então: Por que ainda faltava algo?

Um vazio cheio de incertezas e de esperanças possivelmente inúteis estava formado em um lugar que havia permanecido preenchido por um bom tempo. Havia lugar também para uma sutil e dolorosa decepção que a cada dia ia se tornando mais real, por mais improvável que parecesse. Tudo isso convivia com uma espécie de freio de segurança: era o medo resultante de tantos episódios de ilusão em um intervalo não tão grande de tempo

O cotidiano ia seguindo, o trabalho continuava o consumindo, uma ou outra música o animava e também o fazia, por vezes, um dos seres mais felizes do mundo, pelo menos durante o tempo que tocava.

Um mistério surgia: por mais insignificante que fosse, trazia muitas reflexões e curiosidade, tornando-o de uma importância elevada dentro daquele seu mundinho particular.

Duas grandes perguntas preenchiam sua mente: quando seria que o “medo” que sentia daria lugar a uma pontinha de segurança? Quando e onde acharia estímulo para tentar andar a frente novamente? Amanhã? Não saberia responder, mas sabia que até mesmo no minuto seguinte tudo poderia mudar, afinal o mundo gira, as folhas caem, os frutos brotam e nunca, nunca mesmo um dia é igual ao outro.

Frank Santos
Enviado por Frank Santos em 08/08/2007
Reeditado em 10/10/2007
Código do texto: T597682