ENCRENQUEIRA POR DEMAIS

ENCRENQUEIRA POR DEMAIS

Penso que todos vocês já olharam para o nada, ou seja, aqueles olhares que olhamos sem ver nada à frente; apenas vemos algo no pensamento. Pois eu olhava um olhar deste quando entrou no foco dos meus olhos uma senhora. Digo senhora, pois ela aparentava ter mais de trinta anos, trinta e três se muito. Desalinhada, desmazelada, desleixada... Se bem que eu não via nada disso naquele olhar. Só passei a vê-la depois que ela chamou minha atenção.

- O que está olhando velho gordo e assanhado?

Levei um susto. Tudo era silêncio à minha volta. Estava eu sentado na sala de visitas de um cemitério, aguardando o enterro de um vizinho. Por respeito ao local não me dignei a responder a digníssima senhora. O que a fez tornar-se ainda mais encolerizada.

- Está fazendo pouco caso de mim? Olha para mim com um olhar de tarado e depois faz de conta que não está nem aí...

Relevei suas palavras dando ênfase a que nem mesmo a via, quanto mais ouvia, o que levou-a a se levantar e se dirigir à minha frente e esbravejar:

- Seu safado! Se fazendo de desentendido. Eu vi você olhando fixo para mim, e agora finge de inocente.

Eu poderia ter descascado umas belas ofensas para ela, mas novamente preferir o silêncio, o que a deixou mais “puta da vida”, e se postando a menos de dez centímetros de mim, levantou a mão direita e ameaçou:

- Vou quebrar sua cara sem vergonha!

Foi quando alguém chamou o nome dela, para dar andamento aos preparativos fúnebres. Assim lá se foi a encrenqueira...

P. S. Fato verídico!