Ana e seu aluno

Hoje, como de costume, Ana foi dar aula particular para o seu aluno. Chegou em cima da hora. Agitada, estressada. Tentando esconder uma irritação sem sentido, que insistia em escapar por suas expressões aturdidas. Não conseguia parar de pensar nas milhares de coisas que tinha para fazer em casa. Ele até se assustou. Ela não o cumprimentou. Não perguntou nada sobre o colégio. Já foi logo dizendo que tinham muito que fazer e por isso não deveriam perder tempo.

-Vamos, Vitor! Já abriu o caderno? - ela disse tentando apressa-lo.

Ele não respondeu nada.

A aula prosseguiu chata e monótona. E por vezes Ana chamou sua atenção para que não dormisse. O que a deixou mais irritada ainda.

Só ela falou. Todo o tempo. Freneticamente. Ele apenas balançava a cabeça para cima e para baixo, dizendo que sim, quando ela perguntava se tinha entendido. Hoje, não houve dúvidas. Não houve pausas para pequenas conversas, nem risadas. Hoje ela não perguntou como sempre, se podia apertar sua bochechas grandes e gostosas, mesmo sabendo que ele nunca deixa.

Terminaram a aula cinco minutos antes do horário. Uma raridade, já que praticamente todos os dias ela ficava um tempinho a mais.

-Você já vai? –ele perguntou meio sem jeito.

-Já, por quê?

- Ainda faltam cinco minutos...

- Você quer que eu te explique mais alguma coisa? – Por dentro ela implorava pra que ele dissesse não. E talvez se houvesse ela teria sido capaz de negar ajuda.

-Não!- Ufa!- Só queria te contar uma coisa.

-Então conta.

-Sabe o campeonato que eu te falei outro dia?

- Hum.

- Então. Os meninos da minha turma ganharam de 5x0 no futebol e de 14 x 12 no basquete e as meninas ganharam no handebol, mas perderam no vôlei.

Enquanto ele falava, Ana percebeu como foi egoísta. Como só pensou em si mesma. E em como aquela aula foi horrível. Não só por ter sido um saco, mas também porque ele não deve ter entendido nada do que ela falou apesar de confirmar positivamente todas as vezes em que foi perguntado. Começou a pensar em como ele deve ter esperado a hora da aula só pra contar suas vitórias e ela duramente sufocou sua alegria.

Isso a quebrou completamente. Ficou mal.

-Poxa, Vitor que legal!- Ela disse sorrindo meio constrangida.

Pra tentar se redimir, perguntou se ele queria água. Ele disse que não, mas mesmo assim, falou para ele ir à cozinha e buscar dois copos com água. Ele foi, perguntando pra que dois copos. Ela apenas disse mais uma vez pra ele ir e trazer o que havia pedido. E enquanto ele não chegava comentou mais algumas coisas sobre os jogos.

Quando ele voltou ela disse:

-Vitor! Isso que você me contou merece uma comemoração. Vamos fazer um brinde.

- Ah, é pra isso os copos com água? Espera aí então...

-Voltou com dois copos de coca-cola.

Brindaram. Riram.

Ela viu que ele ficou feliz. Senti-se menos mal.

-Vitor, agora eu tenho que ir. Até a próxima aula.

- Ta! Tchau.

-Tchau.

AnaLuz
Enviado por AnaLuz em 12/08/2007
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