IN(CONVENIÊNCIAS)

Um dia desses, confrontei-me ocasionalmente com Donaire, importante figura pública que me tributava notório desprezo. Para distinguir o ar superior, ele ergueu ainda mais o nariz. Por conta disso, um obstáculo que repousava na superfície, estabeleceu embaraçosa queda. Insustentável, o garbo transformou-se em desespero, dobrou-se no ar e beijou o solo impiedoso. Sucederam-se gargalhadas. Confesso que não compartilhei da zombaria. Logo ofereci ajuda ao homem que, após a queda, mostrava dificuldade para se erguer. No entanto, de forma agressiva, Donaire recusou o socorro oferecido. Com dificuldade, ele finalmente se recompôs e saiu descasado da soberba. Algum tempo depois, fui acusado de tê-lo afrontado em via pública. Nesse sentido, o falso tornou-se verdadeiro. Fora aliciada extensa prova testemunhal. A princípio, fiquei indignado, afinal, quando presenciei seu trambolhão em via pública, ainda me dispus a ajudá-lo. Mas, ao depois, até achei que Donaire era merecedor de uma pernada. O bom nessa história, é que o nariz da superioridade nunca mais ergueu-se tanto ao cortar meu caminho.