Diário Xadrez

Parte 1


   Era uma vez um garoto, de doze anos, morava nas ruas da cidade, contava as histórias de alguns livros que tinha em sua pequena barraca. Um dia, um homem lhe doou algumas moedas, não eram grande coisa, mas ele logo correu até a livraria para que pudesse comprar um novo livro.
   O livreiro lhe conhecia bem, compartilhavam da mesma paixão, mas, por mais que quisesse ajudar o menino, tinha suas quatro filhas em casa, não havia lugar para um rapaz. Ele lhe deu um dos seus livros preferidos e recusou as moedas.
   No dia seguinte, o pequeno garoto mantinha os olhos presos as páginas amareladas, seus dedos as viravam sincronicamente. Nada além disso parecia lhe importar, seu passado ou futuro eram tão distantes para estarem ali, ou em qualquer outro lugar.
    Contudo, por mais que o garoto jamais prejudicasse alguém, haviam outros garotos na cidade, que viviam em sua mesma situação. Uma noite, alguns deles invadiram a pequena barraca do garoto, levando consigo grande parte de seus livros. Na manhã seguinte, acordou e entregou-se as lágrimas.
   Ele correu pelo parque, até tropeçar próximo a um banco. Ali estava um rapaz, vinte e um anos, cabelos bagunçados e uma maneira peculiar de observar as árvores.
-O que houve? – Perguntou ele.
-Nada. – Respondeu o garoto.
-Inconveniente estar chorando então.
-O que você quer?
-Ajudar.
-O que ganha com isso?
-Sentimentos. Existe coisa melhor?
-Roubaram meus livros.
-Você realmente precisa deles?
-Sim.
-Lembra dos títulos?
-Claro, comprei todos com o senhor, Harold. – Menção ao livreiro.
-Vamos até lá. – Falou o rapaz.
   Ambos entraram a passos largos na livraria, o garoto se dirigiu ao balcão e explicou a situação a Harold, enquanto o rapaz permaneceu a três passos de distância.
-O senhor possui os títulos que foram roubados? – Perguntou.
-Grande parte deles, apenas o Luar Violeta e Canções de Villenueve estão faltando.
-Tudo bem, pode providenciar os que estiverem disponíveis. Quero ajudar o garoto.
-O que? – O garoto virou para ele como se não pudesse acreditar. – Você nem me conhece.
-Não precisamos conhecer as pessoas, para sabermos que ali existe um grande coração.
-Obrigado. Mas, qual o seu nome?
-Steve.
 
 
 
    
Johan Henryque
Enviado por Johan Henryque em 30/07/2017
Código do texto: T6069708
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