Noite na Augusta

As estrelas tremeluziam no céu grafite de São Paulo. Beto estava tomando a saideira em um boteco da Augusta. Perfeita reunião: ele, o chope e as estrelas. Gostava de fazer da solidão o happy hour de sexta-feira. Prestes a pousar a caneca vazia na mesa, fixa os olhos numa moça de vestido branco e cabelos negros que acabara de chegar. Tem a impressão de que se trata de uma ex-namorada. Curioso, persegue-a por entre as frestas abertas na multidão sambante. Com a suspeita confirmada, o coração entra em ebulição e ele, rapidamente, retorna à mesa. Desatarraxa a gravata, pede mais um chope. Na tentativa de gerenciar o mal súbito, repete internamente o mantra dos desiludidos: “Passado é passado!”. Isso o ajudava a abafar, por meros instantes, o vapor do sentimento. A menina, por sua vez, cada vez mais iluminada pela brancura do vestido, rodopia contente pelo espaço apertado do boteco. Cada sorriso que compartilhava na pista era um caneco a mais na mesa de Beto. Inconformado, ele tentava racionalizar a loucura que o acometera. “Caramba, fui eu que terminei! Por que estou me sentindo assim?” – martelava o pensamento.

Passa das 03 da manhã. Beto cai desacordado no chão imundo do boteco. Sobre a mesa, mais de vinte canecos com vestígios de saliva e espuma. No céu, assim como na pista, as estrelas se aprontam para o próximo samba.