Visões de Espantalho
Capítulo 3 – A Ponte
Um Ano Antes
Steve parou perto da borda do píer, a vista lhe relembrava a infância, ou talvez apenas o fizesse pensar. Kollen chegara como sempre, batendo as botas de couro enquanto abotoava o xadrez longo, aquele olhar tinha um grande dom, deixa-lo entregue.
– Recebi sua mensagem. O que houve? – Perguntou ela.
– Lembra quando combinamos, que tudo isso seria apenas uma certa aventura?
Kollen andou na direção dele, colocou a mão direita sobre seu rosto e pediu para que fechasse os olhos.
– Nunca irei me apaixonar por você, já lhe expliquei o que me atraia, e bem, atraia. Você já pensou que talvez esteja no meio da ponte? De um lado, estão aqueles que sentem de verdade, que veem o mundo como ele precisa ser visto, do outro, a grande parte das pessoas, aquelas mesmas que passam a maior parte da vida reclamando de tudo. Já passou da hora de escolher um lado.
– Não vejo problemas nisso, afinal, estando no meio, posso alcançar os dois lados, posso levar a luz aos corações escuros. Posso influenciar as pessoas, ajudar a todos que necessitarem. Nunca gostei de um padrão, essa coisa definida só mostra como a vida, pode ser em vão.
– Fico feliz em vê-lo tão forte, saber que aquele garoto bonito não é apenas um recipiente de ideias vazias. Espero que fique bem, já passou da hora de um ponto final.
Steve se aquietou, manteve o olhar sobre o píer e esperou ela se afastar um pouco.
– Antes de ir, queria apenas lembrar de mais uma coisa. Uma vez você me disse que sentia pena dos ignorantes, que o mundo é tão cheio de lixo com a maioria deles, que as pessoas mereciam sentir mais, aprender mais.
– Mantenho a mesma visão, a superficialidade tomou conta de todos. – Kollen permaneceu longe dele.
– Sim, mas ao mesmo tempo me sentia como um deles, mas hoje, com toda certeza, apenas os invejo muito. – Steve caminhou até ela.
– Os inveja? – Ela finalmente olhara com surpresa para ele.
– Sim, invejo como veem o mundo sem grande preocupação, como conseguem aproveitar a vida da maneira mais simples, da maneira certa. Nós podemos até sentir, mas eles fazem mais, conseguem existir.
– Você já está pronto.
– Não, a vida ainda vai me bater bastante, em você também, mas, o que importa, é como iremos levantar, como iremos seguir a diante.
– Esse seu jogo de palavras sempre se misturou ao charme, vou sentir saudade. Adeus Steve.
– Obrigado por me mostrar o mundo, com outros olhos. Adeus Kollen.
Ambos caminharam para casa, claro que as lágrimas ficaram presas na alma. Steve isolou-se no quarto por dois dias, precisava colocar tudo aquilo para fora, apesar de mal saber como fazer. Kollen desapareceu, nem mesmo Peter ouvira falar dela novamente.